No ano de 1883, Alberto Pimentel publica um romance com o título Aventuras dum Pretendente Pretendido. Os dois primeiros curtos parágrafos são um retrato do país. Cito-os, mas como se fossem apenas um: Portugal é um país de pretendentes e de ministros. Começa-se por pretender qualquer coisa e acaba-se por pretender qualquer pasta. Estas coisas vêm de longe e, provavelmente, irão para longe. Somos um país cheio de pessoas com pretensões. Estas, aliás, alimentam uma boa parte da nossa literatura e não apenas a de segunda classe. Talvez sejamos todos aristocratas falhados. Pode haver mesmo uma causa genética para tamanho desgosto com aquilo que se é e tanta azáfama para se ser o que não se é. Há tempos, embora não me lembre quando, li que um especialista em genealogia, dos mais reputadas, asseverava que todos os portugueses são descendentes de Afonso Henriques. Não serei eu que o vou desmentir, mas sendo assim já se percebe de onde vem este vício da pretensão, que se terá tornado em virtude. Também Afonso Henriques, um dia, pretendeu ser Rei. Daí, por via genética, através de uma rede de trocas de genes, umas legais outras nem por isso, a pretensão fez caminho e aninhou-se no coração de cada português, neto longínquo daquele que, entre nós, mais pretensão albergou. Aliás, isso explica por que razão vivemos numa República. Seriam tantos os pretendentes à coroa, que o melhor é que nenhum a use e que se pretenda outra coisa, nem que seja a pasta de ministro.
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