O primeiro terço de
Novembro está consumado, não tarda e chega o Advento, depois virá o Natal e,
sem se dar por isso, o novo ano abrirá portas por entre as exéquias do velho.
Talvez esteja a ouvir coisas. Oiço um barulho longínquo, como se alguém
estivesse a bater compassadamente num bombo, ininterruptamente. Não consigo
determinar a origem do som, nem, na verdade, se ele não será uma alucinação
auditiva. Agora, parou. Talvez o tocador de bombo se tenha cansado, lhe doa o
braço, sinta o pulso aberto de tanto bombar, sei lá. Não encontro designação
para o tocador de bombo. Sempre se poderá pensar que se o tocador de oboé é um
oboísta, o de bombo será um bombista, mas, lamentavelmente, não é. Os bombistas
podem ter duas ocupações. Fabricar bombas ou atirar/colocar bombas, mas não se
ocupam em tocar bombo, a não ser por acidente. Sempre se pode imaginar um
bombista, daqueles que põem bombas, pertencer a uma banda filarmónica e, nessa,
ser o tocador de bombo. Um nome interessante para esse músico seria o de
bombeiro, mas este já está ocupado. Sabe-se que existem duas espécies de
bombeiros. O artilheiro que disparava bombas e aquele que usa bombas de água
para apagar fogos. Uma outra coisa que convém evitar é dizer, como se disse
mais acima, que bombar é tocar bombo. Não é. O ruído voltou. Descubro que a
palavra bombo deriva do grego bómbos, que significa ruído. Comecei com
uma fenomenologia profética relativamente ao desenrolar do calendário e acabei
a falar de bombos, coisa que não me interessa para nada, mas se falasse só de
coisas que me interessam, passaria o tempo calado, ou quase. Envelhecer é
desapegar-se dos seus interesses. O cão das minhas netas decidiu vir para o
escritório ressonar. É pior que o bombo.
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