Daqui a pouco chega o meu neto com os pais. As netas já cá estão desde ontem para sessões de trabalho contínuo com a avó. Consta que vão ter avaliações de Matemática. Agora foram sair. Enfim, a escola não faz bem a ninguém, embora existam coisam que, apesar do mal que sabem, acabam por ser boas. Tal como certos medicamentos. Este blogue esteve em pousio uns dias. Pousio é um termo do mundo agrícola. Traz com ele uma promessa, a de a Terra se regenerar e tornar mais fértil. Duvido, porém, que a analogia chegue até aí. O blogue tem poucas possibilidades de regeneração e é certo que a escrita não se tornará mais fértil. Há muito que não fazia uma caminhada. Fiz hoje. Embora não tenha qualquer prova de que tenha contribuído para a minha regeneração e fertilidade, senti a sensação agradável do ar frio, mas não em demasia, no rosto. Enquanto andava, ao final da tarde, pensava que estes são os dias mais magníficos do ano. Um dia de sol e de frio. São um sinal de uma presença daquilo que é arcaico, embora este arcaico se resuma ao meu arcaico e não ao da espécie. Em vez de pousio estive para escrever interregno, mas há que ser modesto. Estes escritos não representam reino de coisa nenhuma. Imagino mesmo que serão escritos republicanos, mas isto não diz nada, pois há monarquias que são efectivas repúblicas. Este assunto, todavia, está-me vedado, apesar de me ser permitido ler um poema de Horácio que é um panfleto contra a ascensão social de um ex-escravo. O Epodo 4 começa assim: Entre lobos e cordeiros não tão grande inimizade calhou em sorte / como aquela entre mim e ti, / tu, que tens os lombos queimados pelos açoites da Ibéria, e as pernas marcadas por durões grilhões! Não contente, acrescenta: Embora andes por aí a pavonear a tua riqueza, / a fortuna não muda o berço. Horácio deveria saber que a Fortuna é deusa caprichosa e se não muda o berço, pode muito bem mudar o leito.
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