Não sei o que será pior, se um dia sem nada para contar ou a falta de vontade para inventar alguma coisa para narrar. Tendo adquirido um gadget novo, tenho passado os tempos livres preso à experimentação para descobrir como funciona. Todas estas coisas tecnológicas prometem muito mais do que aquilo que se dispõem a cumprir. Talvez porque a realidade as teme e lhes resiste, negando-se a dobrar a cerviz ao génio inventor da humanidade. Como todos sabemos, a espécie humana lá vai levando a água ao seu moinho, dobrando as coisas ao desejo, mas estas, depois de serem derrotadas pelo engenho do sapiens sapiens, conspiram e vingam-se. Decidem funcionar mal, se esperamos grandes desempenhos. Funcionam bem, demasiado bem, se pedimos para que não funcionem. Ocorreu-me que somos uma espécie curiosa. Não apenas descobrimos a existência de múltiplas espécies, como damos nome a cada uma delas e à nossa. Para nós, claro, escolhemos o mais elevado, homo sapiens sapiens, o que sabe o que sabe. Esta designação contém uma dilatação ao infinito. Nós não somos apenas o homo que sabe o que sabe, mas também o que sabe que sabe o que sabe, e assim por diante. Tudo isto significa que não apenas desejamos saber, mas queremos ter um saber infinito, porventura, a omnisciência. Em resumo, presunção e água benta, cada qual toma a que quer. Esta é a segunda máxima ao gosto popular. Já chega.
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