Imagino que seja um livro com informação um pouco desactualizada, mas
talvez não. Não sei, não sou sequer um curioso cuja curiosidade o leve a estar
continuamente actualizado no assunto. O livro data de 1987 e tem por autor
Steven Weinberg, um físico norte-americano que recebeu o Prémio Nobel,
juntamente com outros dois físicos, por ter unificado duas das quatro forças
que superintendem as interacções entre partículas e objectos, tema que não vem
agora ao caso. Devido ao livro, Os Três Primeiros Minutos – Uma Análise
Moderna da Origem do Universo, o autor foi agraciado pelo Presidente dos
Estados Unidos com a Medalha Nacional de Ciências. Depois do Prefácio do livro,
este segue com a Introdução: O Gigante e a Vaca. Esta começa com uma referência
a um conjunto de mitos vikings – Edda – sobre a origem do Universo,
mitos em que, apesar de não existir nada, havia um gigante chamado Ymer e uma
vaca que tinha o nome, aliás inspirador, de Audhumla. Weinberg conclui que a
explicação dada pelo mito nórdico para a origem do Universo não é muito
satisfatória. Passa, então, para um resumo do «modelo-padrão», aquilo a que se
chama normalmente a teoria do big bang. Ele escreve: No início houve
uma grande explosão. Não uma explosão como aquelas com que nos familiarizámos
na Terra, partindo de um centro definido e espalhando-se de maneira a englobar
cada vez mais ar circundante, mas uma explosão que ocorreu simultaneamente em
toda a parte, enchendo o espaço inteiro desde o início, cada partícula de
matéria fugindo de todas as outras. Mais adiante, continua: Cerca do
primeiro centésimo de segundo, o tempo mais recuado de que poderemos falar com
confiança, a temperatura do universo era aproximadamente de cem mil milhões (1011)
de graus centígrados. Ora, apesar de ter passado o tempo do gigante Ymer e
da vaca Audhumla, o tempo anterior ao centésimo de segundo a que podemos recuar
com confiança (o que é uma façanha tremenda da razão humana) e o tempo anterior
(na verdade, não havia tempo) ao big bang abrem a porta para todos os
gigantes matreiros e para todas as vacas encantadas reencarnarem. Quem primeiro
propôs a teoria do big bang, denominando-a hipótese do átomo primordial,
foi um padre católico, professor de Física, em Lovaina, George Lemaître. Consta
que o Papa da altura ficou entusiasmadíssimo e julgou que tinha sido encontrada
uma prova científica da criação do mundo por Deus. Parece que Lemaître lhe terá
dito para não se meter por esses caminhos da ciência, tão ínvios quanto os de
Deus. Talvez, imagino eu, quisesse preservar o encanto da narrativa do Génesis,
aliás, mais imaginativa do que a do Edda nórdico.
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