terça-feira, 13 de agosto de 2024

Um gigante e uma vaca

Imagino que seja um livro com informação um pouco desactualizada, mas talvez não. Não sei, não sou sequer um curioso cuja curiosidade o leve a estar continuamente actualizado no assunto. O livro data de 1987 e tem por autor Steven Weinberg, um físico norte-americano que recebeu o Prémio Nobel, juntamente com outros dois físicos, por ter unificado duas das quatro forças que superintendem as interacções entre partículas e objectos, tema que não vem agora ao caso. Devido ao livro, Os Três Primeiros Minutos – Uma Análise Moderna da Origem do Universo, o autor foi agraciado pelo Presidente dos Estados Unidos com a Medalha Nacional de Ciências. Depois do Prefácio do livro, este segue com a Introdução: O Gigante e a Vaca. Esta começa com uma referência a um conjunto de mitos vikings – Edda – sobre a origem do Universo, mitos em que, apesar de não existir nada, havia um gigante chamado Ymer e uma vaca que tinha o nome, aliás inspirador, de Audhumla. Weinberg conclui que a explicação dada pelo mito nórdico para a origem do Universo não é muito satisfatória. Passa, então, para um resumo do «modelo-padrão», aquilo a que se chama normalmente a teoria do big bang. Ele escreve: No início houve uma grande explosão. Não uma explosão como aquelas com que nos familiarizámos na Terra, partindo de um centro definido e espalhando-se de maneira a englobar cada vez mais ar circundante, mas uma explosão que ocorreu simultaneamente em toda a parte, enchendo o espaço inteiro desde o início, cada partícula de matéria fugindo de todas as outras. Mais adiante, continua: Cerca do primeiro centésimo de segundo, o tempo mais recuado de que poderemos falar com confiança, a temperatura do universo era aproximadamente de cem mil milhões (1011) de graus centígrados. Ora, apesar de ter passado o tempo do gigante Ymer e da vaca Audhumla, o tempo anterior ao centésimo de segundo a que podemos recuar com confiança (o que é uma façanha tremenda da razão humana) e o tempo anterior (na verdade, não havia tempo) ao big bang abrem a porta para todos os gigantes matreiros e para todas as vacas encantadas reencarnarem. Quem primeiro propôs a teoria do big bang, denominando-a hipótese do átomo primordial, foi um padre católico, professor de Física, em Lovaina, George Lemaître. Consta que o Papa da altura ficou entusiasmadíssimo e julgou que tinha sido encontrada uma prova científica da criação do mundo por Deus. Parece que Lemaître lhe terá dito para não se meter por esses caminhos da ciência, tão ínvios quanto os de Deus. Talvez, imagino eu, quisesse preservar o encanto da narrativa do Génesis, aliás, mais imaginativa do que a do Edda nórdico.

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