Leio num jornal online a frase a repressão é a mãe do desejo. A proposição não é particularmente inovadora ou, sequer, interessante, apenas explora uma promessa de erotização. Vivemos num mundo que se saturou de tal modo de psicanálise que tudo o que tenha o seu aroma se torna cansativo. Contudo, a frase recordou-me uma outra coisa, os livros que o antigo regime censurava e proibia. Sempre me pareceu que se essas obras fossem livres, o seu impacto social seria tendencialmente nulo. O acto censório era um modo de propaganda dos livros, muitos deles medíocres, outros de tal modo complexos que só seriam lidos por especialistas, os quais, apesar das proibições, encontravam sempre modo de os ler. Um dos livros vítima da censura portuguesa foi O Anticristo, de Friedrich Nietzsche. Contudo, que impacto poderia ter um livro que discute as raízes da cultura europeia e questões de natureza axiológica? O impacto que tem hoje, isto é, nulo. No acto de censura de um livro há uma crença de que os livros podem mudar o mundo. Uma crença exagerada. Mais facilmente uma descoberta tecnológica muda o mundo do que um livro ou mesmo um arsenal de livros. Repressão e censura de livros são exercícios não apenas moralmente inaceitáveis como inúteis.
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