sábado, 17 de agosto de 2024

Poder absoluto

Retornei ao sítio de calor de onde tinha partido ontem e fui recebido com um abraço caloroso, demasiado caloroso. Os neurónios suspendem a sua função, que já não seria muita, e o mundo fica mais turvo. Dei por finda a estadia junto do mar, cansado de mais de um mês de litoral. Para dizer a verdade, não é tanto cansaço do litoral como saudades do escritório, a minha cadeira. A minha secretária, as minhas estantes. É o meu reino, onde o poder não necessita de negociação e, por isso, é absoluto, tal como o de Luís XIV. Esta coisa de um poder absoluto é sempre uma mentira, pois mil coisas conspiram contra esse poder, até as mais benévolas. Ninguém, nem Luís XIV, tem, teve ou terá poder absoluto sobre si mesmo, sobre o seu corpo, o seu desejo, quanto mais um império sem limites sobre os outros e o mundo. Somos limitados e finitos, o resto são fantasias para disfarçar essa limitação e essa finitude, as quais, elas sim, são absolutas. Agora, vou beber água para me hidratar.

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