Retornei ao sítio de calor de onde tinha partido ontem e fui recebido
com um abraço caloroso, demasiado caloroso. Os neurónios suspendem a sua
função, que já não seria muita, e o mundo fica mais turvo. Dei por finda a
estadia junto do mar, cansado de mais de um mês de litoral. Para dizer a
verdade, não é tanto cansaço do litoral como saudades do escritório, a minha
cadeira. A minha secretária, as minhas estantes. É o meu reino, onde o poder
não necessita de negociação e, por isso, é absoluto, tal como o de Luís XIV.
Esta coisa de um poder absoluto é sempre uma mentira, pois mil coisas conspiram
contra esse poder, até as mais benévolas. Ninguém, nem Luís XIV, tem, teve ou terá
poder absoluto sobre si mesmo, sobre o seu corpo, o seu desejo, quanto mais um
império sem limites sobre os outros e o mundo. Somos limitados e finitos, o
resto são fantasias para disfarçar essa limitação e essa finitude, as quais,
elas sim, são absolutas. Agora, vou beber água para me hidratar.
Sem comentários:
Enviar um comentário