Por aqui, o tempo é particularmente volúvel. Altera-se segundo apetites de um deus desconhecido. Se observarmos de perto os deuses gregos e latinos, percebemos, de imediato, que são caprichosos e, também nisso, imitam os homens. Teve de vir de outro lado a ideia de um Deus único, e nessa unicidade esvaiu-se o capricho, a volubilidade, mas também a forma humana. Nesse esvair-se de tudo o que era humano, os seus desígnios tornaram-se insondáveis. O que será mais terrível para o animal humano, esse animal que sabe que vai morrer e tem a capacidade de pensar na imortalidade, a volubilidade dos deuses ou a insondabilidade de Deus? Imagino que tenha sido este dilema que levou Nietzsche, cuja formação não era filosofia, a anunciar que Deus está morto. Eis um modo fácil de se livrar de um dilema. Fácil e rendoso, pois os europeus adoptaram como verdadeira a proclamação daquele que, após algumas obras tonitruantes, enlouqueceu, entrando assim pela morte dentro. A morte de Deus trouxe, porém, um novo politeísmo, tão volúvel quanto o antigo. Os novos deuses são também caprichosos, mas não sabemos quem são. Eu não sei qual é aquele que aqui rege o clima, mas tem uma notável inclinação para a súbita variabilidade.
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