Por
vezes, em momentos de ócio mais hiperbólicos, dou comigo a meditar um
pensamento trivial sobre a possibilidade de o universo, depois de uma época de
contínua expansão, ter um instante de suspensão e, de seguida, começar a
contrair-se. O momento de suspensão, um momento desmesurado, se comparado com a
escala da vida humana, seria destituído de tempo. Melhor, nele haveria o
presente, mas não passado ou futuro. Tudo se suspendia, inclusive o movimento e
a duração. Um acidente, porém, recolocava o universo em movimento, mas agora de
contracção. Invertia-se o movimento que levara o universo ali, e este fazia o
percurso em sentido contrário. Aqui, além do presente, sempre pontual como
agora, haveria também passado e futuro, mas em sentido contrário. A certa
altura, o universo chegava à configuração em que havia Terra e vida nesta, mas
como se vinha do futuro para o passado, os seres vivos vinham da morte. Quem,
na época de expansão, tivesse morrido velho, agora começava como velho e ia-se
tornando cada vez mais novo, até desaparecer no útero materno, ou, melhor, até
ao momento em que a cópula que lhe dera origem acontecia, começando do fim para
o princípio com o intuito do óvulo fecundado expelir o espermatozóide
fecundador, e este, juntamente com os irmãos falhados, regressar ao sítio de onde
tinha partido, embora não seja fácil de conceber como a devolução à origem se
daria. Talvez o órgão reprodutivo masculino possuísse, em vez de uma força para
a emissão de material genético, uma força de sucção desse material, para o
fazer desaparecer. Com tudo isto, se prova que a ociosidade é a mãe de todos os
males e que convém manter as mentes sempre ocupadas para que não pensem em
coisas destituídas de sentido.
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