Em Sombra,
o último livro de poemas de Maria Andresen, há dois poemas com referências ao
último filme de Ingmar Bergman, Saraband. Em ambos surge Henrik, filho
de Johan, mas não é referido o conflito intenso entre pai e filho. Há um
momento, após uma tentativa falhada de suicídio de Henrik, em que este procura
o pai e este diz-lhe que nem aquilo (o suicídio) foi capaz de realizar. Maria
Andresen prefere a constatação de Henrik … sinto uma dor / constante, / sou
um aleijado. O filme centra-se na relação de Johan (Erland Josephon) com
Marianne (Liv Ullmann). Discute-se se Saraband é ou não uma continuação
de Cenas da Vida Conjugal. Bergman defendeu que não. Ele é o autor, mas,
como qualquer autor, a sua interpretação da obra vale tanto quanto qualquer
outra, pois aquilo que está em causa não são as intenções que presidiram ao filme,
mas o próprio filme. Voltando atrás, se o filme se centra na relação, após 30
anos de separação, entre Johan e Marianne, a tensão entre pai e filho é obsidiante.
Que ilusões um pai alimentou acerca de um filho para que tamanho ódio nasce
dentro dele? Talvez o pai fosse um aleijado e procurasse no filho o ser
saudável que não era. Por aqui, está um começo de Agosto nublado e fresco.
Julho entrou na vasta terra do nada. Fê-lo em silêncio, e o silêncio é toda a
dignidade que resta a quem abandona a existência para entrar ali onde nada é ou
sequer parece ser.
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