Sem se dar por isso, duas semanas de Agosto estão cumpridas. Há uma
estranha percepção sobre a duração. Duas semanas nos dias de hoje passam muito
mais rapidamente do que duas semanas há sessenta anos. Isto coloca um problema
interessante. Enquanto nos tornamos mais lentos, o tempo torna-se mais rápido.
Imagino que a rapidez do tempo está na proporção inversa da rapidez do ser
humano. Dito de outra maneira, quanto mais lentos nos tornamos, mais rápido é o
tempo. Isto, claro, é uma ilusão, mas o que faríamos nós da vida se fôssemos
destituídos de ilusões? Um dos erros perceptivos que sempre me fascinou foi
aquele que ocorre quando se está sentado numa carruagem de um comboio parado na
estação e o comboio ao lado começa a movimentar-se. O deslocar do último gera
no observador parado a sensação de que é ele que se move. O pior é que agora
estou parado no comboio da existência, enquanto a realidade galopa em direcção
ao futuro, mas nenhuma ilusão me acode. Sinto que o mundo vai desencabrestado
por aí fora e que eu fico irremediavelmente para trás, sentado num comboio
parado a que nunca se dará o sinal de partida. As pessoas não caminham em
direcção à morte. É a vida que avança e se esquece delas no caminho. É a isto
que se chama derrelicção.
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