Hoje, fui à praia, mais uma vez. Dizer que fui à praia é uma hipérbole, pois fui ao bar da praia, onde me sentei a beber um café e a comer um pastel de nata, enquanto olhava o mar. Não passei, claro, do bar, mas prometi que voltaria à praia, isto é, ao bar. Não sei bem porquê, aquele bar, que até hoje me era indiferente, passou a ter um valor para mim. Que valor? Não faço ideia, mas apetece-me lá voltar amanhã e no outro dia. Este apetite de voltar a um sítio é a melhor prova de que esse sítio merece a visita. Apesar do meu contencioso com a praia, o mar sempre me fascinou. Não, não é tanto o mar que me fascina, mas a visão do mar. Olho para o mar e sinto uma vertigem – isto é uma metáfora. Essa vertigem quer dizer que estou perante algo que me ultrapassa infinitamente. Sinto-a, ou sentia-a, quando olhava o céu estrelado. O mar e o céu estrelado são símbolos daquilo que me ultrapassa infinitamente, daquilo que me é incomensurável. Há muitas décadas, nas noites estivais de céu estrelado, procurava um sítio onde a poluição luminosa não me incomodasse e ficava a contemplar as estrelas. Tentava suspender o pensamento, mas este resistia e trazia-me sempre as mesmas questões: Para quê tudo isto? Porquê tudo isto? Depois, fui estudar filosofia, mas acho que não adiantei nada. As questões permanecem, mas já não me entrego à contemplação dos céus nas noites estreladas. Tudo isto é inexplicável. O oceano, o céu estrelado, a minha perplexidade perante ambos. Oiço passos, é uma das minhas netas. Não sei se elas sentem uma vertigem perante o mar ou o céu estrelado. E o meu neto, ainda nos cinco anos, algum dia olhará o mar ou o céu estrelado e perguntará para quê e porquê tudo isto? Se nenhum deles o fizer, o que andei eu a fazer neste mundo?
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