Se se ouvir o título A Monarquia do Medo pensa-se de imediato numa série da Netflix, talvez ligada ao tráfico de droga e ao ajuste de contas entre cartéis ou entre a polícia e os traficantes. Contudo, é um belíssimo título de um livro de filosofia, de Martha C. Nussbaum. O título, na verdade, é The Monarchy of Fear – A Philosopher Looks at Our Political Crisis. O livro trata de um assunto que me está vedado, pois eu sou um narrador sem opinião, coisa imposta por um autor despótico. Em vez de A Monarquia do Medo, caso me tivessem perguntado, proporia O Império do Medo. Teria outra ressonância. Numa monarquia do medo, o medo reino sobre os súbditos, mas nem todos os reinos são reinos do medo. Podem ser reinos constitucionais. Num império do medo, aquilo que se escuta é o domínio absoluto do medo sobre aqueles que lhe estão sujeitos. Num império há sempre qualquer coisa de obsessivo, como o cineasta japonês Nagisa Oshima mostrou em Império dos Sentidos, embora seja em Império da Paixão que Oshima torna mais clara a ligação entre império e medo, onde o medo se torna senhor daqueles que lhe vão ficando sujeitos.
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