terça-feira, 10 de setembro de 2024

Assombrar

Passam-se coisas estranhíssimas no cérebro humano. No caso, no meu. Há uma palavra que sempre que quero utilizá-la não me lembro qual é, mas sei sempre a palavra francesa para o mesmo conceito. Então, vou ao dicionário Francês-Português e digito – é um dicionário online, já não posso com os de papel – a palavra francesa e acedo à portuguesa. Um assombro. A palavra é mesmo essa, assombrar. Tenho de ir ver o significado de hanter. Não faço ideia por que motivo o meu inconsciente censura assombrar, mas deixa vir incólume à consciência hanter. Queria falar daquilo que me está a assombrar e estava, mais uma vez, em apuros. A assombração não vem de qualquer fantasma, mas de uma máquina que, na rua, regurgita um barulho demoníaco, enquanto faz subir e descer pessoas que cuidam das paredes exteriores do prédio. Ainda não percebi o que estão a fazer, mas o barulho e o cheiro de um qualquer produto sintético assombram-me e introduzem um factor de distracção nas minhas tarefas. Os piores fantasmas, os mais malignos, quero dizer, são estes dispositivos mecânicos que decidem reproduzir, ampliando, o barulho dos infernos. O que me inquieta neste momento – a máquina calou-se – é não saber a razão por que nunca me recordo da palavra assombrar.

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