Tenho uma neta outonal. Hoje começa o Outono, neste ano de 2024, e ela faz 16 anos. Parece que fazer 16 anos, nos dias que correm, é uma marca importante. Eu não me lembro quando os fiz, mas tenho a certeza de que os 16 não se destacavam dos 15 ou dos 17. Mesmo os 18 eram ofuscados pelos 21, altura em que se atingia a maioridade. Ainda tive de ser emancipado para tirar a carta de condução. Os rituais de passagem mudam com o tempo, mas, o mais decisivo, é que não passamos sem eles. As sociedades modernas, as sociedades desencantadas, colocaram de lado mitos e rituais. O que aconteceu, porém, é que tanto uns como outros se multiplicaram. Por vezes, como ervas daninhas. Não são os grandes mitos e os grandes rituais que dão sentido às existências, mas os pequenos mitos e os rituais insignificantes que assumem esse papel. Por isso, a pequena mitologia, com os seus rituais, do grupo desta minha neta, já não terá qualquer sentido para a irmã, com menos dois anos e meio e muito menos para o meu neto, com menos dez anos. Seja como for, são muito importantes para ela e vou-me despachar para que possa participar numa parte desses rituais e dar força à sua mitologia privada.
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