A semana, a primeira deste Setembro, está a acabar. Hoje termina a semana útil e amanhã termina a inútil. O mais curioso é que todas as semanas começam com um dia de descanso, para terminarem num dia igualmente de descanso. Há nisto uma mensagem subliminar. A utilidade dos dias úteis está envolta pela inutilidade do primeiro dia, o domingo, e a inutilidade do último dia, o sétimo ou o sábado. A mensagem é que toda a utilidade é inútil, embora tenhamos a sensação estranha de que toda a inutilidade, nos nossos dias, foi capturada pelo útil. Enquanto escrevo estas coisas sem nexo oiço um grupo musical a ensaiar. Não consigo perceber se os ensaiadores estão na escola aqui ao lado ou se, mais longe, na praça central da cidade. Seja onde for, não preparam nada que torne a existência – refiro-me à minha, a dos outros é corveia que lhes compete – mais agradável. Entretanto, o ensaio parou, mas isso está longe de ser uma notícia tranquilizadora. A falta de assunto para o dia de hoje está directamente ligada ao estado catatónico em que me encontro. Há pouco li que, segundo a abalizada opinião de uma comentadora televisiva, há pessoas, e ela conhece-as, que ficaram imbecis desde que o Facebook começou. A sua actividade, dessas pessoas que ficaram imbecis, é de postar fantasias sobre elas próprias. Ora, também este narrador posta fantasias sobre si próprio – um si próprio que também é uma fantasia – e não o faz no Facebook. Isto significa que se pode ser imbecil em muitos lugares. Contudo, há uma coisa em que a comentadora está equivocada. As pessoas não ficaram imbecis. Já o eram, mas não tinham espaço público para o mostrar. Falo a partir da experiência pessoal. Não foi a escrever estas coisas que por aqui escrevo que fiquei imbecil. Já o era. Agora, posso tornar isso público ou semipúblico, pois sempre sou um imbecil anónimo, embora não frequente, mas talvez devesse, as reuniões dos imbecis anónimos, pois nunca se sabe quem lá se pode encontrar.
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