Alguém terá confundido ciência infusa com ciência na enfusa. Eis um
equívoco desagradável. Por aqui, chama-se enfusa – não se diz, nesta terra,
infusa, embora se possa, ou talvez deva, escrever e dizer – a uma espécie de
bilha que se enche com água, eventualmente, com outros líquidos. Aliás, nunca
cheguei a perceber a diferença entre bilhas, cântaros e enfusas ou infusas.
Também, seja dita a verdade, nunca me interessei pelo assunto. Deixemos de lado
os preâmbulos e as taxionomias dos recipientes para transportar líquidos e
entremos no assunto mesmo. A ciência infusa é aquela que, transcendendo a
compreensão humana, Deus decide infundir num mortal eleito. É uma ciência do
outro mundo. Já a ciência na enfusa é aquela que um mortal, esquecido de Deus
ou esquecido por este, acumula numa espécie de cântaro – aqui chamado enfusa,
recordo – que é a sua mente. A primeira é um dom, a segunda, um vício. A
realidade diz-nos que são poucos os casos de ciência infusa, mas são legião os
casos de ciência na enfusa. Esta, note-se, não é bem uma ciência, como o são a
Física, a Química. Trata-se mais de uma recolecção abundante de informações
variadas, sem estruturação digna desse nome, cuja utilidade cognitiva é nula e
ainda menor é a sua utilidade prática. Tudo isto para dizer que aquilo que
se pratica aqui é uma forma severa de ciência na enfusa, já que este narrador – e ainda
menos o seu autor – não foi agraciado (de receber a graça) com a ciência infusa.
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