Os provérbios são uma forma de sabedoria que assenta na mais pura equivocidade. Lembrei-me disso ao ver uma referência, em Ernst Jünger, a um muito conhecido: A palavra é de prata, o silêncio é de ouro. O provérbio é composto por duas proposições e nenhuma delas é universalmente verdadeira. Este facto não se deve a que ambas as proposições sejam expressões metafóricas, nas quais se predicam qualidades (a prata e o ouro) que, do ponto de vista da experiência, não cabem ao sujeitos palavra e silêncio. Não é isto que falsifica o provérbio, mas uma outra coisa, também ela expressa de forma metafórica. Quantas vezes o silêncio é de chumbo? Por outro lado, quantas vezes a palavra usada ou dada é de um ferro oxidado, de ferrugem? O interessante, e, por isso, os provérbios são, efectivamente, uma forma de sabedoria, é que os falantes de uma língua sabem identificar o momento de usar esse provérbio, conseguem reconhecer quando ele é pertinente e ajustado, isto é, justo, e quando ele não tem qualquer sentido. O que torna, então, um provérbio uma forma de sabedoria não é tanto o seu conteúdo proposicional, mesmo que metafórico, mas a capacidade do falante o usar de modo adequado. É por isso que os provérbios são formas de sabedoria prática e pragmática, pois implicam saber quando se devem usar e em que contexto. Fora de tempo ou deslocados da situação, são apenas risíveis.
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