Uma mulher pousou o cotovelo na mesa da esplanada, depois
apoiou o queixo na palma da mão. Fiquei à espera que, num súbito movimento de
contorcionista, um pé, levantando-se, acabasse por aterrar-lhe na cabeça. Tenho
demasiadas expectativas sobre a humanidade, não admira que me sinta continuamente
defraudado. Ela podia ser uma contorcionista, afinal era só uma mulher
solitária que apoiava a cabeça para olhar o horizonte e beber café. Quando não
se sabe o que se há-de fazer com as pessoas, o melhor é pô-las a olhar o
horizonte. Não foi este o caso. Eu faria dela uma contorcionista, dar-lhe-ia o
melhor dos futuros num circo já sem animais amestrados, a não ser os humanos,
mas ela preferiu olhar em frente, para aquele sítio onde uma linha ténue une o
céu e o mar. Com vagar, um veleiro foi crescendo, rompendo a linha, e eu temi,
confesso-o sem vergonha, que o oceano se entornasse para dentro do céu, ou que
este lançasse sobre o mar alguma coisa que não quisesse nele. A mulher que
podia ter sido contorcionista mexia, com os seus belos dedos, longos e afilados,
o meio pacote de açúcar que depositou dentro da chávena. Eu vi o pequeno monte
de cristais brancos sobre a espuma castanha. Eu vi-os desaparecer tragados por
aquele buraco líquido. Eu vi-a a fazer rodopiar, com a mão direita, a colher dentro
da chávena, enquanto a esquerda lhe segurava a cabeça para olhar o horizonte.
Se eu tivesse um circo, contratava-a para contorcionista de horizontes. Não
tenho, as minhas palhaçadas – de palhaço pobre, note-se – não chegam para
animar o negócio. Também eu fiquei a olhar a linha do horizonte.
terça-feira, 4 de agosto de 2020
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Destinos
A primeira notícia que li hoje deu-me a boa nova de que
posso produzir cerveja em casa. É muito mais fácil do se pensa, asseguram uns
mestres cervejeiros. Isso raptou-me a atenção. Sempre me fascinou a ideia de
faça você mesmo e a entrada no mundo obscuro do artesanato. O meu único
problema é que não encontro motivo para entrar nesse universo artesanal através
da porta líquida da cerveja. Que me perdoem os amantes, mas passo bem sem ela, embora
uma vez por outra a beba. Fosse um belo tinto, ainda pensaria duas vezes, mas
esse não se deixa enganar com artesanatos caseiros e diletantes à procura de experiências
para matar o tempo. O vinho é um exercício rigoroso, nascido da contemplação do
passar dos dias, não se presta ao faça você mesmo, ao pronto a beber e todas
essas coisas que um mundo superficial decidiu parir como filhos. Julgo que há
uma conspiração do mundo contra mim. Sempre que vejo anunciado uma boa nova,
ela não me é destinada. Não devemos menosprezar o destino. Prodigioso é o
silêncio na pedra, escreveu um dia o poeta austríaco Georg Trakl. Mais
tarde, foi mobilizado como oficial farmacêutico, ele que era dado ao consumo de
substâncias psicotrópicas, para a primeira grande guerra. A 3 de Novembro de
1914, uma overdose de cocaína pôs-lhe fim ao desconcerto de ter de
participar nesse grande evento da loucura europeia. Não tornará a escrever um
verso, nem poderá murmurar Nos muros, apagar-se-ão as estrelas / e as
brancas figuras da luz. Se prodigiosa é a palavra do poeta, mais prodigioso
é o seu silêncio, esculpido na pedra fria da morte. Um melro, vestido de um
luto fulgurante, saltita diante do canavial. Duas rolas passam e poisam num
ramo seco duma árvore morta há muito. O tempo resvala para dentro de si,
enquanto procuro um copo para beber o vinho deste dia.
domingo, 2 de agosto de 2020
Pessoas de papel
Os ociosos dias de Agosto espalham-se por dentro das folhas
de calendário, trazem odores que o tempo fizera esquecer e recordações inúteis.
As aventuras do salteador Dick Turpin, num livro aos quadradinhos, comprado
pelo meu pai com os jornais antes de entrar no café, uma toalha perdida no meio
do mar, a esteira deixada pela passagem de um veleiro. Em vez dos magnos
problemas do mundo ou do intelecto, eram essas coisas que me ocupavam ainda
agora o espírito. Desconfio, embora sem certezas, de que com o avançar da idade
só as coisas realmente importantes têm o poder de nos captar a atenção. O mundo
e a inteligência sempre fizeram a sua vida sem a nossa contribuição e,
portanto, há que deixá-los sossegados. Ontem conheci o tenente Sturm. O nome
não deixa de ser curioso. Traduzido significa tempestade. O tenente Tempestade
não era um salteador de estrada como Turpin, mas um combatente na primeira
guerra mundial, talvez um alter-ego do seu criador, o escritor alemão
Ernst Jünger, também ele envolvido na guerra e, como Sturm, dado às letras. Uma
homenagem também ao Sturm und Drang. As coisas mudam muito menos do que
se pensa. Na infância, era Turpin ou Alvega que me ocupavam o espírito, hoje é
Sturm e Bradomín, o marquês galego dado a D. Juan. Se temos pessoas de papel
para que precisamos nós das outras? Devia evitar frases como esta. Não respeitam
o senso comum e ainda hão-de servir para me acusarem de inimigo do humanismo,
senão da humanidade. Como se sabe, se este narrador tem uma característica,
embora não um carácter, é o de cultivar a hipérbole. Vou comprar um livro à
minha neta e tomar café.
sábado, 1 de agosto de 2020
Eu e o Marquês
Para começar o mês, um provérbio do Oeste. Primeiro de Agosto,
primeiro de Inverno. A imprensa de hoje está tenebrosa. Parece que o PIB caiu,
só espero que não se tenha magoado. As quedas são sempre propícias a fracturas.
Então se for do fémur, um cabo dos trabalhos. Como se vê, inicio este mês
ferial mergulhado não nas águas atlânticas, mas na cultura popular. Essa é a
minha glória, exprimir-me por lugares comuns e não ter sobre o mundo outros
pensamentos senão aqueles que já não pensam nada. Confesso, porém, que nisto de
expressões populares, como em todo o resto, sou um diletante. Nem tenho um
dicionário de expressões populares portuguesas. Na agenda, anoto as referências
de um que devo comprar. Tem 700 páginas e capa dura. Não lhe faltarão
expressões para usar nestes textos, e um livro encapado com dureza dá outro
sainete. Sempre detestei esta palavra e vejo-me agora obrigado a usá-la. As
pessoas não acreditam, mas as sensibilidades de autores e de narradores estão
muito longe de coincidirem. Hoje já pus a máscara para ir comprar limões à
praça, mas a Rosinha não estava lá. Acabei por me esquecer do que lá ia fazer e
comprei figos, uma das poucas frutas que detesto. Uma desgraça. O que me tem
valido, para me dar boa disposição, é o marquês de Bradomín, esse D. Juan feio,
sentimental e católico, burlador burlado, um fidalgo da velha cepa, daqueles
que já não há. Também ele teve a sua Salammbô, menos dramática e mais carnal.
Por mim, já não seria mau se tivesse comprado limões à Rosinha. Bradomín sempre
é um marquês dos antigos e eu um narrador plebeu e de gosto duvidoso.
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Julho fina-se
Como o mês acaba hoje, acho que vou dedicar-me a uma sessão
de auto-análise, para descobrir os avanços e os obstáculos que me tolhem no glorioso
caminho em direcção à excelência. Quanto mais excelente me torno, mais próximo
fico da morte. Começar assim não é recomendável. Quem há-de querer ler coisa mórbidas,
pois para mórbida basta a vida. Sentados numa esplanada, um homem e uma mulher
formam um casal perfeito. Ela não fala, ele não olha para ela, prefere um
jornal desportivo, muito mais palpitante do que vinte anos de cansaços e amarguras.
Ela elege como destino do olhar o horizonte. Ali, esconde-se tudo o que a vida
prometeu. Afinal eram falsas promessas. Quanto a mim, tomo café com a lentidão
de um veleiro num mar sem vento e escrevo estas coisas destituídas de sentido
no bloco notas do telemóvel. A vida é sempre muito mais exígua do que o nosso
desejo, o problema é que além do desejo também nos foi dada a ilusão. O homem
põe o jornal de lado e preenche com demora um boletim do Euromilhões. Talvez
esteja a consultar no inconsciente as informações que o guiarão à fortuna. A
mulher revira os olhos, cansada de tanto horizonte e eu deixo-os em paz, afinal
o motivo da minha existência, no dia de hoje, sou eu, agora que me imagino no
divã a fazer associação livre, enquanto escrevo os meus feitos e defeitos
naquele sítio onde me é permitido enfrentar a necessidade. Não devias falar por
enigmas, diz-me a consciência. Sempre achei a consciência uma grande rameira.
Vende-se-me com demasiada facilidade. Se fosse casado com ela passaria o dia a
ler jornais desportivos. Julho está a finar-se.
quinta-feira, 30 de julho de 2020
O dia da matrícula
Lembrei-me agora de que tenho um assunto a tratar numa dessas
repartições públicas que, apesar de continuamente modernizadas, nunca deixam de
parecer emanações neo-realistas vindas dos anos quarenta do século passado. A
memória vive de súbitas eclosões, relâmpagos raramente antecedidos pelo trovão.
Vive também de associações. Vejo-me há muitos anos a subir, levado pela minha
mãe, uma rua inclinada que terminava lá no alto, numa praça, mesmo ao lado de
uma igreja dedicada ao Salvador. Naquele dia, a ida ficou-se a meio caminho.
Entrou-se pelo portão de ferro e o destino era uma dependência modesta de um
palácio, então em decadência. Subimos os degraus. Lá dentro, dois
sacerdotes da instrução pública registavam matrículas, distribuíam alunos por
professores, tratavam do expediente. Era um dia quente de Julho, eles estavam
de fato e gravata e usavam as negras mangas de alpaca como qualquer amanuense. Lembro-me,
passados tantos anos, da poalha a girar nos ares iluminada pelos raios de sol
que entravam pelo vidro encardido de uma janela. Tudo aquilo era tão soturno,
que se fosse dado a sonhar, certamente aquelas imagens haveriam de vir misturadas
em algum pesadelo. Os livros de registo eram, aos meus olhos, descomunais,
pareciam ocupar todo o tampo das secretárias, e os missionários educativos
preenchiam-nos vagarosamente, usando uma caneta de aparo que ia molhando num
tinteiro de tinta azul aguada. Desenhavam a letra com a precisão que o hábito
dá. O meu nome ficou lá inscrito, aguado de azul, na classe de um professor de
fama tenebrosa, soube-o depois. Na parede, ladeando um crucifixo onde Cristo
continuava pregado, duas fotografias assombravam aquela repartição já de si
assombrada. Quando a minha mãe me tirou dali, pensei que me tinha libertado de qualquer
coisa que, mais tarde, associei a um filme de terror, daqueles em que uma
inquietante estranheza prenuncia uma desgraça. Não devemos dar trela à memória,
pois ela não se cala e aquilo que esqueceu inventa-o para que a conversa não
acabe. Parece ser hora de almoço. Ainda oiço o ranger do aparo sobre as folhas
de papel almaço. Seriam?
quarta-feira, 29 de julho de 2020
Familiaridades irritantes.
Há familiaridades que me irritam. Quem terá dito aos
programadores do novo Word que sempre que se abre um ficheiro temos
de levar com uma mensagem de boas vindas? Ainda por cima vem acompanhada por
uma injunção disfarçada de conselho: comece onde ficou ontem. A cortesia deve
poder desactivar-se, mas estou suficientemente desactivado para o conseguir
fazer. Talvez não tenha acordado com boa disposição e não saiba apreciar esta urbanidade
informática. Num outro tempo, esta terra era um mar a fervilhar de oliveiras e
figueiras. O azeite e o álcool alimentavam as lamparinas com que a vida por
aqui se iluminava. Havia um calendário de cheiros que desapareceram,
substituído por um mundo inodoro e insípido. A memória apazigua-me com as
tontices do marketing. Aqui perto alguém canta. Não é um pássaro, nem um
anjo. É uma voz de mulher perdida numa lide doméstica. Do prédio em frente,
alguém chega à janela, apanha a roupa e refugia-se. O ritmo dos dias enrola-se
no perfume que alguém deixou no elevador. Sentado, olho para a rua e procuro
descobrir no silêncio a transparência com que o passado me assedia a memória.
Numa outra casa, havia um poço com uma roldana de ferro. A corda descia e subia
com um balde cheio de água pura. Não sei o que hei-de fazer com essa água,
agora que a casa já não existe.
terça-feira, 28 de julho de 2020
Manobras militares
Começa-se a ouvir o bater das botas cardadas no alcatrão. Os
exércitos de Julho batem já em retirada, derrotados pela implacável queda das folhas
do calendário. Muito ainda haverá a penar para que um cessar fogo de alguns
meses permita uma vida sem a ameaça contínua de se ser bombardeado pela aviação
do calor. A milícia estival estende quase sempre as suas operações muito para
aquém e para além daquilo que um tratado antigo, que dividia o território do
ano em estações iguais, lhe outorgou. Bebo água para me hidratar e observo o
vagar com que a minha mente orquestra a realidade. Oiço vozes lá fora, mas não
consigo compreender o que dizem. São apenas ondas sonoras que vão e vêm, murmúrios,
súbitas irrupções de notas agudas, e logo o som baixa e não é mais que um
restolhar de folhas secas num Outono adiantado. Há muito que me recomendo o
evitar de truques estilísticos, a pôr de lado metáforas e alegorias, alguma
metonímia perdida. Falta-me o talento. Descrever a realidade com exactidão é a
mais difícil das tarefas. Suspeito que a realidade não gosta que a descrevam e
depois lança feitiços sobre quem escreve para que se perca no desvio retórico,
imaginando que a metáfora nasce do brilho da escrita, quando não é mais do que
a manifestação da sua pobreza. Eu sei que não estou no melhor dos dias, mas
escusava de ter escolhido um assunto tão mórbido. Sempre podia falar do friso
das orquídeas, do que me disse a Marília ontem, quando se cruzou comigo à porta
de uma grande superfície e me reteve para confidências. Talvez ache que eu tenho
cara de sacerdote ou alma de psicanalista. Não tenho, a minha virtude que tanto
atrai a confissão é a indiferença. Quero eu lá saber da vida dos outros, se nem
da minha sei. Não tarda e ouvem-se os primeiros pelotões de Agosto. Pobre
Marília, também os calores a importunam.
segunda-feira, 27 de julho de 2020
O desejo infinito
Uma das coisas que se aprende com a observação do mundo é
que a maioria das pessoas confunde o desejo com aquilo que é possível. A
realidade surge então sempre de forma sombria e toda a gente parece mancomunada
para evitar o que seria possível, não fora a aleivosia dos outros, porque
nisto, os aleivosos são sempre os outros. Não lhes passa pela cabeça que aquilo
que é possível pode nada ter a ver com aquilo que desejamos. As possibilidades
são finitas e o nosso desejo é infinito. Este tipo de estultícia, muitas vezes
mascarado de erudição, abunda por todo o lado. Falei sobre isto com o padre
Lodo e o casal seu amigo, no jantar de há dias. O mecanismo é interessante, disse
o padre e passou a uma longa explicação didáctica. O nosso desejo, referiu com
uma entoação sempre italianizada, diz-nos que algo é muito desejável. Depois, a
nossa razão contaminada pela sensualidade proclama bem alto que o nosso desejo
é possível de realizar. A partir daí tentamos impor aos outros a realização
daquilo que desejamos, mas como raramente o desejo se atém ao que é possível,
saímos para a rua com o dedo em riste a acusar esses malandros que não realizam
as nossas fantasias. A perspicácia de Lodovico nem sempre lhe granjeou
amizades. Pelo contrário. Lembrei-me disto, depois de ler certas coisas há pouco,
coisas que caem neste erro, mas que merecem longos aplausos e muitos likes
nas redes sociais. Toda a gente sofre de infinidade do desejo, pensei. Por mim,
desejo um café.
domingo, 26 de julho de 2020
Insónias e sonatas
Hoje saí de manhã para fazer os meus seis quilómetros contra
a inércia e a preguiça. Consta que faz bem e evita que a balança se entregue ao
destempero, ao ser pisada por mim, e me devolva algum impropério em forma de
quilogramas. A passeata foi um pouco mais lenta do que a de ontem. Dormi mal,
uma insónia bateu-me à porta e eu, incauto, abri-lha. Dei por mim apreciar a
companhia. Permitiu-me acabar de ler um romance de Ramón del Valle-Inclán, a Sonata
de Otoño. Alguém dirá que também Ingmar Bergman realizou uma Sonata de
Outono, o que é verdade, mas não têm nada a ver uma com a outra. Cada uma
tem o seu assunto e o seu ritmo. Quem me recomendou o Valle-Inclán foi a Emilia
Bazan, a mulher do antigo aluno alemão do padre Lodovico Settembrini, no jantar
do outro dia. Como não conhece nada dele, comece pelas Sonatas,
sentenciou. A primeira é a de Outono, acrescentou, numa tentativa de
trocar o seu magnífico castelhano pelo português. Nesse momento, o padre
Lodovico franziu as sobrancelhas, mas não disse nada. Percebo-o, agora. O
Marquês de Bradomín não é propriamente um exemplo de bom cristão, mas o padre
também teve os seus dias avessos ao altar. Eu obedeci, muni-me de um exemplar e
li. Isso fez-me andar mais devagar, o que foi logo notado pela aplicação do
telemóvel que me segue os treinos. Na verdade, eu não ando a treinar, mas é
assim que ela interpreta o facto de eu me pôr a caminhar rua fora sem destino,
a não ser o da casa da partida. Caminhar é como jogar ao Monopólio. Vá para a
casa de partida, mas não tem nada para receber. Nos domingos de Julho íamos,
por vezes, almoçar à casa onde nasci. Era um almoço sob uma latada, o que
criava uma sensação de frescura. Naquela altura, ainda ninguém tinha morrido e o
mundo parecia uma clareira aberta. Há muito que não é possível juntar todos
aqueles comensais, mas eles fazem parte de mim. Hoje talvez comece a ler a Sonata
de Estío ou pergunte às minhas netas se querem jogar Monopólio. Presumo que
me olharão de lado.
sábado, 25 de julho de 2020
Não-assuntos
Sábado, dia de ócio. As palavras da família do ócio têm
todas péssima imprensa. És um ocioso. Soa como uma acusação fundada num juízo
moral negativo. No entanto, a palavra ócio quer dizer repouso, descanso, coisas
que me parecem benévolas. Depois, um mundo que ficou fascinado pela agitação,
pela febre das realizações e pela velocidade associou o ócio à preguiça e à
inacção. Os acusadores do ócio tecem loas ao trabalho, mas nunca dizem que a palavra
vem do vocábulo latino tripalĭu. Um tripalĭu
é um instrumento de tortura constituído por três estacas ou paus. O exercício
não seria conhecido pelo prazer que provocava a quem a ele era submetido. Na
verdade, o trabalho, talvez até à Revolução Industrial, nunca mereceu louvor.
Trabalhava quem não tinha estatuto social para fazer outra coisa. No entanto,
podemos encontrar inesperados aduladores do trabalho. No Diário Íntimo,
Baudelaire afirma que o prazer gasta-nos. O trabalho fortifica-nos. Os
nazis não eram destituídos de humor negro e, por certo, percebiam a natureza
torturante do trabalho. Inscreviam na entrada de alguns campos de concentração,
como Auschwitz, o trabalho liberta. Curiosamente, em Baudelaire o
trabalho também é visto como uma libertação, mas da omnipresença na consciência
da sensação do tempo. Tanto o prazer como o trabalho são vistos por ele como
distractores da nossa condição de seres finitos. Tudo isto porque chegámos a
sábado. Nos dias de ócio, pode-se ociar de diversas maneiras. Por vezes,
pratico o ócio procurando autores que ninguém lê. Leio-lhes umas páginas e
esqueço-os. Quem terá ouvido falar em Karl Krause, um filósofo kantiano que
viveu no final do XVIII e no início do XIX? Não o confundir com o famoso dramaturgo
austríaco Karl Kraus. E do pensador holandês François Hemsterhuis, que viveu no
século XVIII? Ninguém. Eu também não. Encontrei-os porque levado pelo ócio me
pus a procurar as obras, numa língua acessível, do romancista romântico alemão
Jean Paul. Deste, eu tinha duas referências. A de Sebald que é elogiosa e a de
Schopenhauer que o acusa de não ter nada para dizer e de só escrever por
dinheiro, isto é, acusa-o de trabalhar. Olho para a minha agenda imaginária e
vejo que tenho de dar parabéns a alguém. Depois, escrevo nela a seguinte nota:
evitar assuntos idiotas ao sábado, aproveitar o ócio para uma coisa mais
decente do que encher o monitor com palavras sobre não-assuntos. O pior, porém,
é que com a passagem do tempo só os não-assuntos me interessam.
sexta-feira, 24 de julho de 2020
As rosas da Piéria
Safo, no poema As rosas da Piéria, lança, talvez sobre
alguma amante que a rejeitara, o pior dos anátemas que os ouvidos gregos
podiam, naquele tempo, escutar: Morta jazerás e de ti não haverá jamais
memória / nem saudade no futuro: pois não participaste das rosas / da Piéria.
Ser perdido pela memória dos outros. Não haver quem no futuro de si se lembre.
Os séculos edulcoraram a maldição, até a transformar em pura aceitação, como se
o esquecimento dos outros fosse o próprio da condição humana. Em muitos, todavia,
persiste a revolta. Persegue-os aquilo a que popularmente se chama a mania das
grandezas ou o desejo da fama, mas isso não é mais do que o temor de ser
esquecido pelo futuro. O colírio para esse mal não era, segundo Safo, um
qualquer, mas a participação na vida das musas, as rosas da Piéria. A arte seria
assim o resultado de um combate pela memória e a saudade que o futuro teria do
artista. A sua ausência e a sua falta seriam sentidas. Dignos de imortalidade,
de persistirem na memória dos vindouros, não eram apenas os grandes feitos, mas
também as grandes palavras. O melhor seria que aquele que realizasse um grande
feito dissesse também grandes palavras, que participasse no convívio com as
rosas da Piéria. Gostaria de saber a razão por que me pus com estas
elucubrações, enquanto a vida lá fora fervilha e as pessoas caminham para o seu
próprio esquecimento. Vão esquecidas de que serão esquecidas. Recordei-me agora
de um poema de David Mourão-Ferreira, Ladainha dos Póstumos Natais. Relei-o
e soletro baixo para que ninguém me escute: Há-de vir um Natal e será o
primeiro / em que terei de novo o Nada a sós comigo. Nem as rosas da Piéria
nos salvarão. O fim-de-semana abre-se diante de mim e isso é o mais que posso
desejar.
quinta-feira, 23 de julho de 2020
Um fado, uma sina
A semana entrou na recta final. É uma frase estranha, mas não
notamos a estranheza, de tanto a usar. Nem sempre o tempo foi visto como uma
recta, melhor como uma flecha que segue sempre em frente, sem que nada a
detenha ou desvie. Tempos houve em que o homem o compreendia como se fosse um
círculo, em que tudo voltava, num verdadeiro eterno retorno do mesmo. Tudo isto
para dizer que a semana se aproxima do fim. Ainda há dia e meio para as
utilidades, mas logo chegará o ócio do fim-de-semana. A imprensa substituiu o
retrato imaginário de um vírus COVID-19 pelo de Amália Rodrigues, no centenário
do nascimento da fadista. Ficámos todos
a ganhar. O vírus é horrível, enquanto Amália era uma bela mulher. Fica muito
bem nas capas dos jornais. Os olhos agradecem. Durante muitos anos, não liguei
nada ao fado. Depois, Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro e Carlos do Carmo
dobraram-me. Hoje em dia, quero dizer no tempo em que ainda não havia retratos de
vírus na primeira página dos jornais, vou a concertos de fadistas. Nunca me
arrependo. Talvez seja a isto que se chama envelhecer. Na rua, os cães ladram,
um casal passa devagar, cada um ajoujado ao peso da própria sombra. Separa-os
meia dúzia de metros, como se já não pudessem suportar a companhia um do outro.
Foi por vontade de Deus. Também eles têm a sua sina. Um pássaro canta, enquanto
um par de anjos poisa no prédio em frente.
quarta-feira, 22 de julho de 2020
A fortuna do saco
Os dias seguem enrolados em inexpugnável manto de calor. S.
Pedro, descontente com a vida que se leva por aqui, lança anátemas e raios de
sol para abrir consciências e rasgar peles. Talvez não devesse levantar estas
suspeitas sobre aquele que detém as chaves do céu. Deve-se sempre ter as
melhores relações com quem gere as portas e administra permissões e proibições
de entradas. Segundo consta, nem vale apena argumentar contra decisões
desfavoráveis, pois o porteiro celeste tem mais que fazer do que ouvir
mentiras, ele que sabe toda a verdade. Deveria evitar estes esboços de
mitologia, pois vivemos num tempo desencantado em que ninguém tem saco para
este tipo de conversa. É uma pena. Quem diria que a palavra saco teria tão
grande fortuna. Encher o saco, despejar o saco, meter a viola no saco, não cair
em saco roto, meter tudo no mesmo saco. Ter ou não ter saco, eis a questão. É
possível que toda a metafísica se resuma a ter ou não saco ou seja uma questão
de ensacar e desensacar. Os dias de Verão são sempre difíceis, principalmente
para um narrador que nada tem para narrar. Podia falar da Marília que tornei a
ver com o Zé Tó, ambos com ademanes abrasileirados, um samba excessivo para a
idade deles. Digo eu. Poupo-vos, porém, aos pormenores. Tenho de ir encher o
pneu da bicicleta da neta mais nova. Andar de bicicleta dá muito trabalho.
terça-feira, 21 de julho de 2020
Dos sonhos e da distância
Foi Bioy Casares que, num conto intitulado de Nóumeno,
fez dizer a Arturo os sonhos são convincentes, mas não vou permitir que a
superstição prevaleça sobre a sensatez. Talvez tenha razão e a superstição
nasça do sonho, daí o seu poder de convencer e gerar fundas convicções. Tenho
uma vantagem sobre a maioria dos humanos. A mim os sonhos não me convencem e,
por isso, talvez possa resistir melhor à superstição. Esta vantagem não nasce
de uma qualidade que possua, mas de um defeito. Raramente, mas muito raramente,
me recordo de um sonho. Se durante o sono se deram em mim aventuras oníricas,
mesmo as mais extraordinárias, quando acordo é como se nada se tivesse passado.
Há quem discuta se se sonha a cores ou a preto e branco, eu não faço ideia do
que estão a falar. Se alguma vez fosse tentado pela psicanálise, não teria
sonhos para interpretar. Restariam a associação livre e os actos falhados. Aqui
haveria material em abundância para ser conduzido ao momento traumático que na
infância me fez apagar o poder de recordar os sonhos. Não se pense, porém, que
eu tenha fé na psicanálise. Como disse, resisto à superstição. Ontem encontrei
um amigo que já não via há uns meses. À distância, atirou ele. É a nova ordem
mundial. Eu percebo-o bem. Médico de profissão, não pode fazer outra coisa
senão cultivar a distância. E ficámos a conversar com um espaço de segurança de
uns três metros, a combinar um encontro de famílias, mas não faço ideia como vamos
resolver a distância nesse encontro, onde haverá crianças e adolescentes. A
proximidade entre as pessoas tornou-se uma superstição nascida de um sonho.
Resta-nos a distância. Cristo se viesse agora ao mundo já não ordenaria amar o
próximo como a si mesmo, mas o distante. Quanto mais distante mais digno de
amor.
segunda-feira, 20 de julho de 2020
Fábrica de desejos
Hoje acordei com uma inexplicada inclinação para assuntos
metafísicos. Fui salvo pelo dever terapêutico de ir caminhar. Seis quilómetros
de périplo fizeram-me esquecer a tentação matinal. Não é que não se pense
quando se caminha, mas os pensamentos são físicos, sobre coisas a que chamam realidade.
Um carro que passa, um buraco num passeio que quase nos faz cair, uma pessoa
conhecida que nos cumprimenta, três desconhecidos que correm como se fossem
atletas de alta competição, outro que se arrasta pela calçada e que se tivesse
um módico de consideração por si evitaria aquela figura. Caminhar é abrir uma
janela por onde perpassam as mais inesperadas personagens de milhares de
romances que nunca se hão-de escrever. Outras vezes enrolamo-nos em pensamentos
que nos chegam do passado ou então em imaginações vindas daquela fábrica de
desejos que todos transportamos connosco. Possuir uma fábrica de desejos dentro
de nós é um perigo, talvez o maior dos perigos. Quem quiser uma vida descansada
fecha a sua fábrica de desejos, despede o pessoal e mergulha na realidade, sem
deixar que um desejo sequer lhe bata à porta. Chegado aqui, se me perguntarem a
razão por que estou a escrever isto, só tenho uma resposta: não faço a menor
ideia. No entanto, isso não tem qualquer gravidade. As pessoas não fazem a
mínima ideia das razões que movem a maioria dos seus actos e fazem-nos, achando
neles, por vezes, felicidade. Isto foi o que disse o padre Lodo no jantar de
sexta-feira, quando a Emilia Bazán lhe perguntou a razão de ter vindo viver
para Portugal. Oiço uma voz a chamar-me. Eu sei, eu sei, ainda não fui arranjar
o furo da bicicleta. Deveria ter pensado nisso quando caminhava, mas talvez
estivesse ocupado com a minha fábrica de desejos.
domingo, 19 de julho de 2020
As dádivas de Zeus
Troquei de versão do Word. A que tinha vai deixar de
receber actualizações e comprei uma recente. Esta irrita-me. Muito, diga-se.
Mancomunada com os defensores do Acordo Ortográfico de 1990, sublinha-me como
erro todas as palavras portuguesas que foram banidas por arbitrária decisão
política. Exceptuando os governos de Portugal, penso que mais ninguém liga ao
patético Acordo. Este é uma conjuração contra as consoantes mudas, algumas das
quais não são assim tão mudas. Se vivemos num mundo em combate contínuo contra
discriminações e perseguições, como é que continuamos a pactuar com a perseguição
às consoantes mudas? Os domingos são dias propícios à falta de assunto.
Entretanto, uma das minhas netas entrou-me pelo escritório dentro, avô, avô,
tenho um furo na bicicleta. Um furo? Um furo. Hoje é domingo, respondi. A
oficina está fechada? Está. Noutros tempos, haveria de haver uns remendos
tip-top e lá se desmontava a roda e, após uma complexa liturgia, o furo estaria
remendado. Hoje a especialização leva a estas situações e a minha alma nunca
teve qualquer inclinação para a mecânica. Ela encolheu os ombros. Vou andar de hoverboard.
É uma boa ideia, ao menos não há risco de se furar uma roda, respondi. Olhou-me
com complacência e foi-se embora. Para amanhã já tenho uma tarefa inadiável. Na
nova edição de Poesia Grega, com traduções de Frederico Lourenço, há
três fragmentos de poemas de Mimnermo. Em todos se encontra uma lamentação pela
velhice e num deles há uma inesperada consideração sobre a igualdade dos
homens: Não há ninguém a quem Zeus não dê muitas tristezas. Enquanto
forem acordos ortográficos ou um furo na roda dianteira da bicicleta, as coisas
não estão más, pensei num momento de optimismo. O Word, impiedoso,
assinalou-me como erro optimismo. Talvez o optimismo seja um erro
trágico, considerei.
sábado, 18 de julho de 2020
A morte de Rafael e a parusia de Jesus
Acabo de ler que Rafael, o pintor renascentista, morreu
vítima de uma doença semelhante à provocada pelo coronavírus. Não contentes com
isto, os informadores ainda foram desenterrar as coscuvilhices do Vasari. Este
não precisou de redes sociais para registar e divulgar que o pintor de Urbino
não apenas saía de casa à noite, quando estava um frio de acender lareiras,
como o fazia para visitar as amantes. No plural, note-se. O amor à concorrência
e a valorização do mercado não são coisas de agora. Ainda por cima omitia
estes factos venturosos aos médicos e, quem sabe, aos confessores, o que seria mais
grave. Resultado? Morreu aos 37 anos, apesar dos cuidados que lhe foram
dispensados. Somos levados a imaginar que se ele não se tivesse dado a tanta
consolação nas noites frias, não teria tido uma morte tão desconsolada. Continuando
com a imprensa. O leitor talvez já não se recorde o que é a parusia. Os tempos
não andam bons para se manter uma sólida cultura religiosa, mesmo que seja
aquela em se foi educado. Apesar do termo ser um pouco esdrúxulo (na verdade, é
uma palavra grave de origem grega), refere-se a uma antiquíssima crença dos
cristãos. A segunda vinda – em glória – de Jesus. Expectativa iminente e sempre
adiada. Vejo agora na imprensa que a segunda vinda de Jesus está consumada. Não
há jornal ou site de informação que não proclame que Jesus voltou. Há
quem espere que seja em glória, mas sobre isso não me pronuncio. Confesso que
com o calor de hoje não me ocorreu mais nada. Podia ter contado o meu jantar de
ontem em Lisboa com o padre Lodovico Settembrini, o seu antigo aluno Hans
Castorp e a mulher deste, a espanhola Emilia Bazán, mas isso ficará para um dia
destes. Vou enviar um email ao padre para lhe perguntar o que acha ele da parusia
de Jesus.
sexta-feira, 17 de julho de 2020
Do exercício da estultícia
A humanidade divide-se em três categorias. Os sagazes, os
estultos e os outros. Não me coube nem o estatuto dos outros nem o dos sagazes.
Restou-me entrar no clube dos que cultivam a estultícia. Como todos os
estultos, sou um praticante assíduo. Nunca falto a um treino e compito nos melhores
campeonatos de estultícia para seniores. Hoje entrei numa livraria para ver os
livros. Realizei plenamente o meu desígnio. Cumpri os objectivos, como agora se
diz. Cheguei lá, olhei para as estantes e vi que tinham umas coisas vagamente
parecidas com livros. Foi uma contemplação pura. Só um estulto entra numa
livraria sem óculos. Os sagazes são precavidos e, caso necessitem, terão sempre
uns à mão. Os outros nem precisam desses benévolos dispositivos pois não entram
em livrarias, espaços que são apenas frequentados por sagazes e estultos que se
pensam sagazes. Um funcionário perguntou-me se eu precisava de ajuda. Que não,
respondi e agradeci o empenho solícito. Não lhe ia pedir uns óculos emprestados
nem que me lesse as lombadas dos livros. Ainda não cheguei a essa fase. Como
todos os estultos insisti em comprar livros. Quando cheguei a casa descobri que,
caso tivesse óculos, não teria comprados dois dos que comprei. Sempre posso ir
trocá-los, mas está tanto calor e nada me garante que leve óculos e não acabe
por trazer os mesmos que teria devolvido. O que me valeu para disfarçar, aos
meus olhos, a estupidez natural foi uma cliente que estava em muito pior estado
de conservação do que eu. Ia conversando com os empregados e o dono da livraria
e acabou, entre pagamentos, considerações literárias e pedidos para guardar a
encomenda, a oferecer-lhes croquetes. Óptimos, asseverou, e como comprei seis e
sou só uma. Eles agradeceram. Ela saiu e eu fiquei a pensar quando será o dia
que entro numa livraria e, mesmo com óculos, acabo a oferecer croquetes ou
pastéis de nata à menina da caixa. Nunca se sabe para o que estamos guardados.
quinta-feira, 16 de julho de 2020
Falta de concorrência
Tudo se paga nesta vida. As coisas irritantes que não fiz
ontem fi-las hoje. Ao sair de casa, a atmosfera purgava grossas bagas de calor,
inundando ruas e avenidas com um ar tão quente que logo se imagina o dia
propício a um grande desvario. Pôr o carro a lavar, passar pela oficina e pagar
a bateria que ontem vieram colocar quase ao anoitecer, passar pelo seguro para
levantar a carta verde. Faltou-me apenas abastecer o depósito. Uma manhã
dedicada ao automóvel, ainda assim sem completar todas as tarefas. Tirando a
adolescência, que pela sua natureza não conta nestas considerações, a minha
relação com carros sempre foi enviesada. São coisas que me cansam, embora me
dêem algum jeito. Aquilo que eu gostaria mesmo era de teletransporte, mas ainda
não está disponível na gama de mercado a que posso aceder. Uma pessoa
fechava os olhos, concentrava-se no destino para onde queria ir e, passados
segundos, encontrava-se lá de carne e osso. Era uma grande vantagem. Perdia-se
menos tempo, a poluição baixava drasticamente e os milhões de empregos ligados
aos transportes seriam alocados – meu Deus, como é possível deixares-me escrever
esta palavra? – a coisas mais filantrópicas, cuja natureza agora não me ocorre.
De facto, o mundo foi muito mal construído. O arquitecto deveria ter um
espírito aberto e democrático e escutar a freguesia. Um amigo economista
confidenciou-me que isso se deve à falta de concorrência. Se os clientes
pudessem escolher entre vários mundos possíveis, os arquitectos em competição
preocupar-se-iam com os interesses dos consumidores. Sendo assim, é o que se vê. Um
mundo cheio de vírus e sem teletransporte. Uma pepineira.
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