Os ociosos dias de Agosto espalham-se por dentro das folhas
de calendário, trazem odores que o tempo fizera esquecer e recordações inúteis.
As aventuras do salteador Dick Turpin, num livro aos quadradinhos, comprado
pelo meu pai com os jornais antes de entrar no café, uma toalha perdida no meio
do mar, a esteira deixada pela passagem de um veleiro. Em vez dos magnos
problemas do mundo ou do intelecto, eram essas coisas que me ocupavam ainda
agora o espírito. Desconfio, embora sem certezas, de que com o avançar da idade
só as coisas realmente importantes têm o poder de nos captar a atenção. O mundo
e a inteligência sempre fizeram a sua vida sem a nossa contribuição e,
portanto, há que deixá-los sossegados. Ontem conheci o tenente Sturm. O nome
não deixa de ser curioso. Traduzido significa tempestade. O tenente Tempestade
não era um salteador de estrada como Turpin, mas um combatente na primeira
guerra mundial, talvez um alter-ego do seu criador, o escritor alemão
Ernst Jünger, também ele envolvido na guerra e, como Sturm, dado às letras. Uma
homenagem também ao Sturm und Drang. As coisas mudam muito menos do que
se pensa. Na infância, era Turpin ou Alvega que me ocupavam o espírito, hoje é
Sturm e Bradomín, o marquês galego dado a D. Juan. Se temos pessoas de papel
para que precisamos nós das outras? Devia evitar frases como esta. Não respeitam
o senso comum e ainda hão-de servir para me acusarem de inimigo do humanismo,
senão da humanidade. Como se sabe, se este narrador tem uma característica,
embora não um carácter, é o de cultivar a hipérbole. Vou comprar um livro à
minha neta e tomar café.
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