Acabo de ler que Rafael, o pintor renascentista, morreu
vítima de uma doença semelhante à provocada pelo coronavírus. Não contentes com
isto, os informadores ainda foram desenterrar as coscuvilhices do Vasari. Este
não precisou de redes sociais para registar e divulgar que o pintor de Urbino
não apenas saía de casa à noite, quando estava um frio de acender lareiras,
como o fazia para visitar as amantes. No plural, note-se. O amor à concorrência
e a valorização do mercado não são coisas de agora. Ainda por cima omitia
estes factos venturosos aos médicos e, quem sabe, aos confessores, o que seria mais
grave. Resultado? Morreu aos 37 anos, apesar dos cuidados que lhe foram
dispensados. Somos levados a imaginar que se ele não se tivesse dado a tanta
consolação nas noites frias, não teria tido uma morte tão desconsolada. Continuando
com a imprensa. O leitor talvez já não se recorde o que é a parusia. Os tempos
não andam bons para se manter uma sólida cultura religiosa, mesmo que seja
aquela em se foi educado. Apesar do termo ser um pouco esdrúxulo (na verdade, é
uma palavra grave de origem grega), refere-se a uma antiquíssima crença dos
cristãos. A segunda vinda – em glória – de Jesus. Expectativa iminente e sempre
adiada. Vejo agora na imprensa que a segunda vinda de Jesus está consumada. Não
há jornal ou site de informação que não proclame que Jesus voltou. Há
quem espere que seja em glória, mas sobre isso não me pronuncio. Confesso que
com o calor de hoje não me ocorreu mais nada. Podia ter contado o meu jantar de
ontem em Lisboa com o padre Lodovico Settembrini, o seu antigo aluno Hans
Castorp e a mulher deste, a espanhola Emilia Bazán, mas isso ficará para um dia
destes. Vou enviar um email ao padre para lhe perguntar o que acha ele da parusia
de Jesus.
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