Para começar o mês, um provérbio do Oeste. Primeiro de Agosto,
primeiro de Inverno. A imprensa de hoje está tenebrosa. Parece que o PIB caiu,
só espero que não se tenha magoado. As quedas são sempre propícias a fracturas.
Então se for do fémur, um cabo dos trabalhos. Como se vê, inicio este mês
ferial mergulhado não nas águas atlânticas, mas na cultura popular. Essa é a
minha glória, exprimir-me por lugares comuns e não ter sobre o mundo outros
pensamentos senão aqueles que já não pensam nada. Confesso, porém, que nisto de
expressões populares, como em todo o resto, sou um diletante. Nem tenho um
dicionário de expressões populares portuguesas. Na agenda, anoto as referências
de um que devo comprar. Tem 700 páginas e capa dura. Não lhe faltarão
expressões para usar nestes textos, e um livro encapado com dureza dá outro
sainete. Sempre detestei esta palavra e vejo-me agora obrigado a usá-la. As
pessoas não acreditam, mas as sensibilidades de autores e de narradores estão
muito longe de coincidirem. Hoje já pus a máscara para ir comprar limões à
praça, mas a Rosinha não estava lá. Acabei por me esquecer do que lá ia fazer e
comprei figos, uma das poucas frutas que detesto. Uma desgraça. O que me tem
valido, para me dar boa disposição, é o marquês de Bradomín, esse D. Juan feio,
sentimental e católico, burlador burlado, um fidalgo da velha cepa, daqueles
que já não há. Também ele teve a sua Salammbô, menos dramática e mais carnal.
Por mim, já não seria mau se tivesse comprado limões à Rosinha. Bradomín sempre
é um marquês dos antigos e eu um narrador plebeu e de gosto duvidoso.
Mas comprou uma fruta que não gosta? Eu só o faria por amor a alguém que dela gosta.
ResponderEliminar(por acaso também não aprecio figos...nem uvas, frutas que a maior parte adora).
~CC~
Há narradores capazes de tudo, até de comprarem fruta de que não gostam, embora possa existir quem goste.
EliminarContra as uvas, nada contra. Os figos, esses nunca consegui gostar. E já tenho tido conversões.
HV