Sempre que passo por lá, e faço-o várias vezes por dia, há
uma sombra de tristeza a pairar sobre aquele lugar. Não é que esteja abandonado
e a ruína seja o horizonte próximo. Pelo contrário, está bem conservado, apesar
das alterações inóspitas que a sua fachada sofreu. Houve ali uma vida
exuberante, sonhos, uns fundados na terra da realidade, outros mais
tresloucados. Hoje tudo isso é uma sombra que se desvaneceu na voragem dos
dias. O antigo Colégio de Santa Maria é, mas confesso que não tenho bem a certeza,
um lar de repouso de freiras. Manteve a fidelidade ao feminino, mas há muito
que não há por ali raparigas de bata azul, carregadas de livros e de ilusões.
Agora floresce a indiferença de quem passa ou a melancolia de quem cresceu num
mundo que o mundo aniquilou. Olho a rua e o vento sopra, levando com ele folhas
mortas, papéis inúteis, restos de plástico, memórias feitas de flocos de nuvens
e o tecido inútil de tudo o que passou.