Fui à farmácia comprar um
medicamento que me há-de fazer bem à hipertensão arterial. Um exercício
contumaz que evitará, presumo esperançoso, que a tensão se entregue ao devaneio
da hipérbole. Animado pela perspectiva, saio e, em plena avenida, passa um
bando de pré-adolescentes. Raparigas e, perdido entre elas, um rapaz. Talvez
inconsolado pela sua solidão de género, desdobra-se, em altos berros, em
palavrões. Em busca da masculinidade, pensei, ou talvez fique mais aliviado e esteja
a prevenir alguma doença do fígado. As pessoas passavam, os homens sorridentes,
as mulheres de orelhas moucas. Se tivesse a certeza de que uns palavrões eram,
para a hipertensão, mais eficazes que um beta bloqueante, acho que também eu
desatava a bradar avenida fora. Duvido, porém, da eficácia da metáfora e segui para
casa.