Consta que ocorreu o equinócio da Primavera. Vi que o
acontecimento se deu pelas 16 horas e 15 minutos, segundo informação do
Observatório Astronómico de Lisboa. Não dei por nada, mas fiquei mais
descansado. As coisas ainda não estão de tal modo que equinócios e solstícios –
duas belíssimas palavras, diga-se – se tornem acontecimentos incertos. Quando
saí do lugar onde me suportam para que eu possa ter um modo de vida, a cidade
não me acolheu primaveril. Limitou-se a deslizar com indiferença pelo tempo,
sem esperança nem desespero. E assim também eu passei por ela, sem a olhar nos
olhos nem lhe escutar a respiração, para me vir aqui sentar e escrever coisas
sem nexo, as únicas que nesta vida valem a pena ser escritas.