“De formas mudadas em novos corpos leva-me o engenho a falar”.
Assim começa Ovídio as suas Metamorfoses.
Vê-se logo que entrei de fim-de-semana. Ora estas metamorfoses são coisas mais
importantes do que se pensa. Veja-se o caso de Saulo de Tarso, agora conhecido
por S. Paulo. Não fora a súbita metamorfose sofrida por ele na estrada de
Damasco e hoje não haveria cristianismo ou, se houvesse, seria outra coisa,
talvez menos preocupada com o sexo. Também eu, por vezes, sofro uma
metamorfose, não tão dramática quanto a de Paulo, mas também não me ponho a
caminho de Damasco. Limito-me a passar pelas ruas de Torres Novas. Durante
décadas odiei, com determinação, favas. O cheiro deixava-me nauseado. Como em todos
os ódios, também neste o que sobrava em fervor faltava em racionalidade. Há uns
tempos, nem sei bem porquê nem aonde, tive uma metamorfose. Hoje foram, não sem
grande prazer, o meu almoço. A cada um as suas iluminações.