Há catorze anos ainda vivemos os dois – o meu pai e eu -
este dia, mas ambos sabíamos que seria, muito provavelmente, o último Dia do
Pai que partilharíamos. Fingimos que o não sabíamos e continuámos a nossa
conversa. Era uma conversa como se tivéssemos a vida toda à frente. Em finais
de Setembro, tudo ficou consumado, o que sabíamos que iria acontecer aconteceu.
Mas aconteceu também outra coisa, a conversa não acabou. Ela continuou dentro
de mim e, um dia, espero que continue nos meus filhos, pois trata-se de uma
conversa infinita, aquela que liga um pai e um filho. E mesmo no momento em que
escrevo isto a conversa continua, flui rapidamente. Eu sei tudo o que ele diria
e ele sabe tudo o que tenho a dizer. Este mútuo conhecimento não anula a
surpresa das nossas palavras, pelo contrário. É esse mútuo conhecimento que
permite a contínua surpresa duma conversa sem fim.