sábado, 31 de março de 2018

Leituras


Não leio em cafés ou na praia. Por vezes, tento mas sou de imediato derrotado. Ainda pensei pegar no livro e ir sentar-me no café ao lado de casa. Espreitei pela janela e desisti. Um excesso de humanidade alegre e ruidosa, presa às suas ilusões e ao vazio que nos coube em sorte. Perderia outra vez. Sento-me à secretária e começo a ler O Fim dos Tempos Modernos. Hoje em dia, desconfio, ninguém lê Romano Guardini. O livro foi publicado em 1950 com o título Das Ende der Neuzeit. Leio a tradução francesa de 1953, tudo anterior ao meu nascimento, pensei. Não admira que já ninguém saiba sequer quem foi Guardini. Inclino-me para o livro, mas as metamorfoses do sol perturbam-me a leitura. Brilha e logo se esconde atrás de alguma nuvem, como se quisesse jogar às escondidas comigo ou cantar aleluias. Não quero. Fico a olhar ao longe, o hospital parece uma alma penada, tragado pelo bolor. Os cedros do pequeno bosque da escola em frente crescem vigorosos. Pena que não existam também ciprestes, concluí e peguei no livro.