Não leio em cafés ou na praia. Por vezes, tento mas sou de
imediato derrotado. Ainda pensei pegar no livro e ir sentar-me no café ao lado
de casa. Espreitei pela janela e desisti. Um excesso de humanidade alegre e
ruidosa, presa às suas ilusões e ao vazio que nos coube em sorte. Perderia
outra vez. Sento-me à secretária e começo a ler O Fim dos Tempos Modernos. Hoje em dia, desconfio, ninguém lê
Romano Guardini. O livro foi publicado em 1950 com o título Das Ende der Neuzeit. Leio a tradução
francesa de 1953, tudo anterior ao meu nascimento, pensei. Não admira que já
ninguém saiba sequer quem foi Guardini. Inclino-me para o livro, mas as
metamorfoses do sol perturbam-me a leitura. Brilha e logo se esconde atrás de
alguma nuvem, como se quisesse jogar às escondidas comigo ou cantar aleluias. Não
quero. Fico a olhar ao longe, o hospital parece uma alma penada, tragado pelo
bolor. Os cedros do pequeno bosque da escola em frente crescem vigorosos. Pena
que não existam também ciprestes, concluí e peguei no livro.