Chove. O vento inclina as copas das árvores, fá-las desenhar
figuras bizarras, para depois as deixar sonâmbulas, muito aprumadas, ramos a
apontar para o céu. Os campos de jogos da escola em frente estão cobertos por
lençóis de água. Não se avista, da minha secretária, vivalma. Vejo as notícias –
ah essa oração da manhã do homem moderno que ainda não dispenso – e deparo-me
com o anúncio da morte de Stephen Hawking, o físico britânico. Fico a olhar
para a rua e a pensar no que foi a sua vida. Na verdade, muitos dos problemas
dos homens residem na vontade fraca. Ele que deveria ter morrido há quase meio
século viveu em circunstâncias físicas excepcionalmente difíceis e é uma das
grandes figuras do século XX e inícios do XXI. Sim, ele teria uma inteligência
prodigiosa, mas sem uma vontade de ferro nunca o seu nome teria chegado a nós.
Ao olhar os seus dados biográficos, descubro que escolheu bem os dias para
nascer e morrer. Nasceu no dia em que, trezentos anos antes, morrera Galileu
Galilei e morreu no dia em que, cento e trinta nove anos antes, nascera Albert
Einstein. Para completar o quadro, pensei, só falta uma coincidência com Isaac
Newton. A chuva rumoreja e o dia enovela-se numa cinza triste. Indiferentes a
tudo isto, algumas oliveiras permanecem impávidas, como se soubessem de coisas
que nunca imaginaremos.