Dezembro galopa. Não tarda, terá deixado o Natal para trás e estará a bater à porta do Ano Novo. Não sei como ainda falamos em anos novos, a não ser por uma inclinação desmedida para nos iludirmos. Entre 31 de Dezembro e 1 de Janeiro, não haverá diferenças, nem novidades, nem inovações. Nada, a não ser estarmos um dia mais velhos, alguns mais velhos um dia e ressacados. Levantei-me cedo e estive a trabalhar durante toda a manhã. A tarde não vai ser diferente. Hoje não me chegam rumorejos da rua, talvez o silêncio seja um efeito de ser Domingo, ou do cinzento baço com que o céu se pintou, ou de o café da praceta estar fechado, ou de eu estar a ficar surdo. Há sempre tantas causas possíveis para aquilo que acontece, que nunca sei a verdadeira razão seja do que for. Ontem à noite brinquei com o meu neto. Vi desenhos animados e assisti a sessões de pintura no quadro branco que há no quarto das crianças. Já me trata por avô, isto é, por bô e, mal me vê, dá-me a mão e puxa-me para os sítios que quer visitar. Como é domingo, almoçarei tarde, para que uma velha tradição se cumpra. Amanhã será outro dia, a não ser que alguma coisa se passe no sistema solar, mas o melhor é não pensar nisso.
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