Estamos em pleno pós-Natal. Um sábado que não parece sábado antecede um domingo que há-de parecer outra coisa qualquer. Depois de um Natal todo ele passado em Lisboa, sem aquelas múltiplas viagens que a ausência de pandemia implica, um retorno à província, com netas atreladas. Tudo parecia bem, enquanto se consultava os sítios onde se poderia almoçar ao chegar. Pobres enganos. Acabada a escolha, um furo em plena A1, ainda antes das portagens de Alverca, deitou tudo a perder. Começou-se pelo exercício de despejar uma bagageira carregada como se se fosse mudar de casa. Os parafusos ainda saíram, mas a roda manteve-se firme no lugar, recusou-se a saltar de onde estava. A salvação veio de um carro da Brisa, onde alguém com um taco de madeira e um maço a ajudou a sair e, num gesto de gentileza suprema, colocou lá a outra. Estava colada, ouvi. Retomada a viagem, havia um sol brilhante e, no horizonte, uma lua esbranquiçada desenhava um crescente já bem visível. Sempre que a lua aparece durante o dia, tenho a sensação de estar num filme de ficção científica, num daqueles onde se salta de planeta em planeta com a maior das facilidades. Está um Inverno magnífico, com dias frios e uma luz intensa e vibrante. Na A1 havia pouco trânsito. Agora o sol desmaia-se lentamente, enquanto caminha em direcção àquele lugar a que chamam o sítio do sol posto. As raparigas são muito dramáticas. Uma leve dissensão motivada por um riso sardónico fora do lugar e logo temos direito a uma sessão bergmaniana de lágrimas e suspiros. A adolescência, com as suas borbulhas e humores volúveis, não é um lugar tranquilo para viver. No meu bloco-notas imaginário, escrevo: já tenho idade suficiente para ligar para o seguro e pedir para virem mudar o pneu. Era o que deveria ter feito, em vez de parecer um náufrago à deriva numa auto-estrada.
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