Olho para o telemóvel. Informa-me que são onze horas e onze minutos. Estes acasos fascinam-me. Contemplo os quatro uns perfilados, apenas interrompidos a meio por um sinal de dois pontos. Imagino, então, que o tempo se suspendia nessa hora, não porque o mundo acabasse, mas porque o tempo tinha sido abolido e aquela informação era já um sinal do passado, pronta para que arqueólogos a encontrassem e especulassem sobre o mundo em que havia tempo. Logo o devaneio foi quebrado, pois uma súbita metamorfose levou a que o um da direita se transformasse em dois e o tempo retomasse o seu império sobre mim e sobre o mundo. Lá fora, o sol brilha, embora haja momentos em que empalidece, como se recebesse uma notícia desagradável. A consoada já está a caminho montada no ginete desse tempo que não foi abolido. Será a mais estranha das consoadas que me será dado viver. Os rituais natalícios foram esventrados por outros rituais mais imperativos. O vírus não é destituído de estratégia. Aproxima-se sorrateiro, sem se mostrar. Começam a ouvir-se notícias de quem foi por ele apanhado e esse alguém está cada vez mais perto, até que o inimigo põe cerco e não deixa ninguém sair das muralhas acasteladas onde as gentes se agrupam para a resistência. Ainda não cheguei aí, mas é cada vez mais possível. O telemóvel interrompe-me. Uma mensagem informa-me que me será entregue uma encomenda até às 19 horas. Encolho os ombros e vejo que são quase onze e meia. Está na hora de acabar o escrito, não sem antes pensar se foi lento ou rápido o ritmo da escrita. Faço as contas, dezasseis palavras por minuto.
Essas capicuas plenas são muito engraçadas, acontecem-me muito com o 2, não sei porquê: serei uma rapariga par?
ResponderEliminarAinda há pouco marcava 13:31.
Afinal, talvez seja ímpar. :)
Já nos contou que teve aí o seu netinho, será que ele ainda continua a desarrumar os CD e os livros?
Toda esta conversa para lhe desejar, a si e família, o melhor Natal possível, com tudo o que for possível...
E que a encomenda chegue a horas.
Dias Felizes, HV.
🎄
Maria
E fará diferença ser par ou ímpar?
EliminarO pequeno está mais contido e já percebe a palavra não, a mais terrível das palavras, mas também a mais civilizadora. Toda a civilização começa com um não.
Muito obrigado.
Também para a Maria e os seus, um Bom Natal.
Um boa noite de consoada.
HV