Acabo de receber uma mensagem do antivírus do telemóvel. Não se trata de me informar de um ataque das forças maléficas, mas de um exercício de crítica de arte. É verdade, o meu antivírus tem uma função que faz crítica artística. Não raras vezes, invade-me o monitor e informa-me que certas fotografias são de má qualidade. Se não quero eliminá-las, pergunta. Desculpa-se, mas não passa de dissimulação, que é material que ocupa espaço e, como se sabe, nestas coisas o espaço é valioso. Na realidade, apenas pretende sublinhar que não nasci para fotógrafo e seria mais razoável desactivar a câmara. Ele não o diz, mas bem o percebo. O mundo virtual ganhou demasiado autonomia, penso, enquanto olho o negro da noite a sugar a cidade. Dezembro completou a primeira dezena de dias e também todas as suas promessas têm pouca realidade. Tenho algumas coisas para fazer, mas o corpo está inclinado para o sossego e adiá-las parece-me um bom conselho. Fecho os olhos, apoio a cabeça na mão e deixo o tempo fluir. Haverá de me fazer falta, mas se fosse lamentar tudo o que me fará falta, bem podia não fazer outra coisa na vida. Oiço uma pequena composição de Arvo Pärt com o nome de O Grito do Veado e medito que muitas são as maneiras como o universo lança gritos ao alto e que a Terra é lugar de uma grande gritaria. Não faltarão razões. Os dias estão estranhos é o quero dizer e agora calo-me.
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