quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Se sonhasse

Se eu sonhasse, sonharia que era um extraterrestre que me perdera neste planeta e que, para sobreviver, tinha de parecer humano e crer naquilo que os homens acreditam. Era um exercício difícil, pois há gente disposta a dar assentimento às coisas mais inverosímeis, parecendo haver uma indústria para produzir as maiores tolices e outra para adestrar os incréus na fé de crer nelas. Não faltam sacerdotes e sacerdotisas, apóstolos e apóstolas. O que me vale é que não sonho e, logo, não sou um extraterrestre. Por isso, por não ser um verdadeiro ET, posso comer chocolate ou fumar um cigarro. Hesito entre os dois e, passados instantes, escolho o chocolate e o cigarro. Os alunos do centro de línguas entregam-se a uma algazarra sem fim. Talvez seja um intervalo. A noite está a cair, enquanto o dia, envelhecido, se decompõe em finas partículas de poeira que o vento levará para longe da nossa memória. Alguém grita golo, e eu recordo-me de também ter gritado golo e apaziguo-me com o caravancerai que vai ali por baixo. Os meus dias passam com a finalidade de passarem e de me arrastarem com eles. Conformo-me. Tenho uma quantidade enorme de tolices para meditar. Talvez me conduzam ao nirvana.

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