Quando fui caminhar, por volta das oito da manhã, descobri que a população veraneante encolhera drasticamente. Cruzei-me com muito menos caminhantes, passeantes, ciclistas e esforçados adeptos do jogging. Chegado ao molhe, olhei para as praias e não havia ninguém, o que está longe de ser habitual. Àquela hora já vi gente a tomar banho, escolas de surf em actividade, onde um sacerdote dirigia um ritual de aquecimento, com estranhos ritos envolvendo o corpo dos monges com o habita da ordem, pessoas a passear os cães junto à beira-mar, outras sentadas olhando para o oceano, talvez a sonhar com a América, com grandes veleiros e navios transatlânticos. Hoje, nada nem ninguém. Também, no molhe não se avistava vivalma humana, apenas gaivotas em conferência, que levantavam voo com a minha aproximação. Já não é um tempo de despedida de férias. Esse deve ter ocorrido no fim-de-semana. É um tempo em que se pode dizer: o sol parece mais fraco. Contudo, os bares lá estão, também a areia e o mar, com os seus rumorejos. Depois, comentei parece que se está na Bretanha ou na Normandia ou num episódio do inspector Maigret. Estou inclinado para a nostalgia. Ao escrever Maigret, lembrei-me de uma França que só existe na imaginação, uma França que era o celeiro espiritual dos portugueses, num tempo em que estes ainda não se tinham convertido à cultura anglo-saxónica. Agora, ninguém aprende francês e muito menos está interessado naquilo que possa vir de França. Isto é uma Idade sem amor bloqueada pelo êxtase / do tempo, como escreveu, no início dos anos sessenta do século passado, Herberto Helder. O espírito do tempo mudou e as pessoas extasiam-se com outras coisas ou já não se extasiam com nada. Este talvez não seja um tempo para êxtases, mas nunca se sabe.
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