Talvez as pessoas não saibam o que fazer com ela. Tratam-na como coisa divina, mas evitam demorar ali os seus olhos. Quase não tem leitores. Em prestígio, só a música ombreará com ela. É possível que já não se saiba o que fazer com a poesia, nem como a ler, nem o que esperar dela. E, no entanto, é possível ainda depositar a esperança num poema. Não a esperança da salvação, mas aquela que orienta o olhar para este perceber as coisas que diante dele estão manifestas, mas que ele não vê. Considere-se este pequeno poema: Quando pronuncio a palavra Futuro, / a primeira sílaba já pertence ao passado. // Quando pronuncio a palavra Silêncio, / destruo-o. // Quando pronuncio a palavra Nada, crio algo que não cabe em nenhum não-ser. Wisława Szymborska dá-lhe o título AS TRÊS MAIS ESTRANHAS PALAVRAS. Como, sem poesia, poderíamos descobrir a estranheza nestas palavras que usamos como quem uso moedas de pouco valor. Contudo, isto ainda não é tudo. Em cada um dos primeiros versos dos três dísticos encontramos a palavra pronuncio, wymawiam, em polaco. O que o poema manifesta é o peso que existe em cada pronunciamento. Não é inconsequente tomar a palavra. Sempre que o fazemos, modificamos o mundo e as próprias palavras não ficam incólumes ao uso que delas fazemos. Daqui o prestígio da poesia, mas também a falsa indiferença generalizada perante ela. As pessoas fingem indiferença, pois temem-na. Pressentem que ela diz sempre qualquer coisa de decisivo. E nada haverá de mais inquietante do que aquilo que é decisivo. Antes e depois de o ser.
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