domingo, 21 de agosto de 2022

Memórias

Este é um domingo cheio de trivialidades, como o são todos os meus domingos. Isto para não falar nos outros dias da semana. Recordo que uma coisa trivial é aquela que todos sabem e, por isso, se torna comum. Portanto, tenho preenchido este dia com coisas que todos sabem. Isto não significa que não me tenham acontecido aventuras que engrandecem a minha gesta. Por exemplo, ter ficado na cama e não ter feito a caminhada habitual com a frívola desculpa de que já estava muito sol. Mais picaresca foi a de ter engolido – embora não tenha dado por isso – a massa, não sei de que matéria seja feita, de restauro de um dente. Agora, terei de marcar consulta para nova restauração, para que me componham um dente da frente que terei partido há mais de cinquenta anos, na sequência de uma queda aparatosa no colégio, quando teria uns avultados 12 anos. Correndo desalmadamente em direcção do campo de Spiribol, tropecei numa espia de arame que segurava um dos postes do campo de Vólei. Um acontecimento. Rasguei as calças, destrocei os óculos, esfolei as mãos e, como prémio da combatividade, parti três dentes da frente. Também um castigo, pois estava em território dos mais velhos, onde gente da minha idade não era convidada a entrar. De um desses dentes alimentei-me hoje. Um dos livros que trouxe para férias foi O que diz Molero, de Dinis Machado. O livro saiu em 1977 e devo-o ter lido em 1978, durante os excruciantes afazeres do serviço militar. Lembro-me de me ter divertido imenso. Tendo perdido o rasto ao exemplar comprado então, adquiri um outro num alfarrabista, uma edição de 2003. Tenho esperança de o ler ainda por estes dias. Temo, porém, que não lhe ache graça nenhuma, mas como em tudo na vida é preciso correr riscos. E não é dos menores, o risco da desilusão.

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