Por preguiça, decidi ir almoçar ao bar da esquina. O domingo tinha entrado por ali dentro sem pedir licença a ninguém, nem ao proprietário. Não me refiro a qualquer domingo, mas a um muito especial, ao domingo de província sob efeitos do calor. É um dia que se torna lento e as pessoas que estavam no bar, talvez também elas tomadas pela preguiça, entregavam-se com demora inusitada à restauração das forças. Cumprida a função, saí e rapidamente cheguei a casa. Agora, sentado no escritório, janelas fechadas, oiço a música mais adaptada que poderia imaginar para o meu estado de espírito dentro do espírito do dia. Um álbum de 1999 da Deutsche Grammophon chamado Après un rêve, onde o violoncelista letão Mischa Maisky acompanhado pela pianista francesa Daria Hovora interpretam peças de múltiplos compositores franceses. O casamento do violoncelo e do piano cria um ambiente onde quem escuta facilmente se deixa levar por uma doce rêverie, sentindo a música deslizar dentro de si, como se fosse uma carícia delicada. Não há o arrebatamento das grandes paixões, a exaltação do ânimo, mas a leve melancolia que acompanha todos os grandes amores. Mesmo numa peça com o nome de Extase, de Henri Duparc, não existe qualquer sinal de euforia, mas de uma grande contenção, como se a intensidade do espírito e da vida interior exigisse a mais vincada serenidade exterior. É a esta serenidade que entrego o meu domingo de província.
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