O tempo de férias desliza com rapidez, como se fosse um enxame incandescente, brilhando contra a paisagem soturna dos dias úteis, como se uma febre relampejante o tocasse em direcção ao nada. Não tarda e tudo estará consumado. As minhas netas foram-se há pouco embora, outra estação de férias as espera noutro lado, deixando por aqui uma fenda. O dia está enovoado, mas quente. Há muita gente nas ruas, pois o dia da Assunção da Virgem ainda é feriado, embora para a generalidade das pessoas, das que não estão de férias, não tenha qualquer significado religioso, a não ser, este ano, o do culto dos fins-de-semana prolongados. Cada época terá a sua religião, e a nossa, uma época politeísta, tem imensos cultos a múltiplos deuses, todos eles pouco divinos. Hoje de manhã, na caminhada com que costumo abrir o dia, já se via gente nas praias. Ainda não seriam autênticos banhistas, mas pessoas que aproveitam a manhã ainda criança para caminhar junto à beira-mar. São caminhantes marítimos, um estatuto a que me furto, pois a inclinação do chão, ainda que a areia esteja molhada e dura, torna o andar desagradável. O corpo desequilibra-se, e quando o corpo perde o equilíbrio, a cabeça não fica melhor. Agora, vou habituar-me à ausência das netas. Muito fácil é a presença tornar-se um hábito, mas a falta exige trabalho e afinco. Há que mudar o ritmo.
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