Bem podia começar este texto contando o inusitado pedido de opinião que me foi solicitado por uma amiga. Omito, por pudor, o pedido, embora possa acrescentar que dei a opinião, embora não propriamente a minha. Há muitos anos ouvi uma história, embora não tenha qualquer prova de que seja verdadeira, apesar de quem a contou me merecer toda a credibilidade. Verdadeira ou falsa, nunca a esqueci. Num banquete, o filósofo alemão Georg Friedrich Wilhelm Hegel, uma eminência na altura, estava sentado ao lado de uma princesa russa. Esta, talvez movida por necessidades protocolares, tentou entabular conversa com o professor Hegel, perguntando-lhe, não sem inocência, como ia a sua filosofia. O filósofo não se fez rogado e respondeu-lhe: Alteza, aquilo que a minha filosofia tem de meu é o que não presta. Levado pela memória desta lição, respondi dando a opinião, mas tentando extrair-lhe tudo o que fosse meu. Analisei o caso a partir de considerações morais, tanto consequencialistas como deontológicas, bem como do ponto de vista teológico, metafísico e estético. Evitei qualquer consideração de carácter técnico, já que o pedido incidia sobre uma intervenção no corpo, para concluir que ela deveria fazer o que muito bem entendesse. Nisto, porém, há qualquer coisa de meu, uma crença, talvez injustificada, no livre-arbítrio. Imagino, agora, a princesa russa a fazer o mesmo pedido – embora, o caso na altura, devido ao atraso da medicina estética, não se pusesse – ao professor Hegel. Será que ele evitaria dar a sua opinião? São estes dilemas que me atormentam nestes dias de sol, enquanto oiço as minhas netas a conspirarem contra a ordem instalada na casa.
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