Umas vezes estou em conflito aberto com o calendário; outras, num processo de desconhecimento radical. O primeiro caso acontece quando penso que se está num dia e, afinal, se está noutro; o segundo ocorre quando não faço a mínima ideia em que dia da semana se está. É este o caso de hoje. Faltam-me as referências. Aqui se condensa a diferença entre o erro e o desconhecimento: no primeiro caso, existe uma crença que se pensa verdadeira, mas que é falsa; no segundo, não há qualquer crença – apenas um vazio. Em que dia estamos?, pergunto-me, mas não consigo responder. Por norma, as pessoas preferem ter crenças falsas a não terem nenhuma: uma crença, mesmo errada, é uma bússola; a pessoa pensa que está a caminhar para Norte, mas dirige-se para Sul. Apesar disso, há uma consolação: caminha-se para algum lado. Eu prefiro não ter qualquer crença a ter uma errada. Quando não se tem uma crença, olha-se para a bússola e não se percebe que objecto é aquele. Em vez de me pôr a caminhar, fico sentado a pensar em coisas abstrusas ou a contemplar a minha ignorância. É neste momento que atinjo a sabedoria: a douta ignorância. Contudo, uma preferência não significa que seja isso que se faça. A maior parte das vezes ando de bússola na mão, sem a saber ler, pensando que vou a caminho do Oriente, enquanto me dirijo para Ocidente – esse lugar onde o Sol se põe, a luz se apaga e tudo acaba.
Sem comentários:
Enviar um comentário