Por aqui o dia começou deslumbrante, mas, conforme as horas foram passando, o que havia de deslumbre foi sendo substituído por uma névoa esbranquiçada, como se fosse um véu de uma noiva abandonada no altar, trapo andrajoso, sujo, cravejado pelos dardos escuros da dor. Talvez a tonalidade do dia servisse para cenário de um romance policial, com um crime urdido nas teias virginais da vingança. A vítima fora encontrada com um estilete cravado no coração, de onde saíra apenas um fio de sangue insignificante. Ninguém sabia quem ele era e que culpas carregava na consciência. Só a noiva abandonada o conhecia. Isto, porém, não faz sentido, pois uma noiva abandonada no altar não tece vinganças, mas, livre de um futuro incerto, dá graças por o destino lhe ter perdoado a precipitação de um sim ou a falta de coragem de um não. O melhor é não imaginar crimes e detectives, deixar o dia correr e esperar que tudo siga o caminho traçado sabe-se lá onde ou por quem, sem noivas ultrajadas nem véus gastos pelo vitríolo da vingança.
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