terça-feira, 22 de julho de 2025

Vida quotidiana

Hoje fiz uma viagem de apenas oito graus centígrados. Como foi uma viagem de ida e volta, e como as diferenças de temperaturas, à ida e à volta, se mantiveram constantes, poder-se-á afirmar que, mesmo num mundo conturbado como o nosso, existem constâncias. Nem sempre a volubilidade reina no ânimo de quem superintende as metamorfoses da realidade. Tinha várias coisas a tratar naquele sítio onde, durante grande parte do ano, me acolho para pagar tributo à deusa Necessidade. Entre essas coisas, a mais premente era passar pelos CTT e levantar uma encomenda de livros que tinha chegado no dia 17 e que temi que fosse devolvida à precedência. Também fui à loja de mobiliário de escritório, para levantar a cadeira onde, neste momento, escrevo. A outra estava cansada, e decidi reformá-la. Talvez a devesse condecorar pelos serviços prestados ao longo de mais de duas décadas. Ainda falámos sobre o assunto – eu e ela –, mas opôs-se. Não tinha paciência para cerimónias, nem farda militar, nem casaca ou mesmo um simples fraque. Que não fosse por isso, ripostei. Agradeceu e fez-me um estranho pedido: não me abandones no sótão ou numa cave. Prefiro ser deixada ao pé de um caixote do lixo. Alguém pegará em mim e dar-me-á uma nova vida. Talvez lhe faça a vontade, mas ainda não tomei uma decisão. Andamos, nós os humanos – no caso de eu ser um humano –, muito enganados sobre a natureza dos objectos do mundo. Tanto os que são fruto da natureza como os que são produtos do artifício. Pensamo-los passivos, meras coisas ao alcance da mão, instrumentos para os nossos fins, mas isso é uma fantasia nossa. Eles têm vontade e expressam-na. Temos, porém, de estar dispostos a falar com eles. Coisa que raramente ocorre, mesmo no meu caso, em que prefiro falar sozinho. Agora vou equipar-me e fazer uma caminhada, por causa dos pontos cardio, seja lá isso o que for, mas a sua acumulação faz bem ao coração. E quem não quer ter um coração saudável?

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