quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Viagens digitais

A internet é uma porta aberta para mundos que sem ela ficariam apenas ao alcance de poucos. Por exemplo, o universo dos alfarrabistas. Estes, claro, existiam muito antes de haver uma rede que liga toda a gente a toda a gente, mas a sua pura existência física não permitia aquilo que o alfarrabismo digital permite, o aceder quase ao mesmo tempo a vendedores de livros dispersos por todos o país, por todo o mundo. Depois, consente, sem ter de tocar nos livros, admirar estranhas conjugações de livros. Por exemplo, O Paraíso da Droga, a que se segue, do historiador Luís de Albuquerque, «O Reino da Estupidez» e a Reforma Pombalina, que é seguido por outro com o notável título Ensaios filosóficos escolhidos de operários, camponeses e soldados, da editora Vento de Leste. A este segue-se Ventriloquia ao alcance de todos, que precede Lobos do Mar, de Kipling, o qual antecede Poemas, de Holderlin. A seguir surge, inevitavelmente datado de 1974, Partidos Políticos – ponto por ponto e, para acabar a enumeração, a obra principal de Giordano Bruno, Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos. São estranhas constelações que se formam e que não eixam de enviar sobre o transeunte digital uma certa luz sobre o mundo em que ele aterrou. Além de perder tempo, estas viagens acabam por serem instrutivas, pois sempre se vai descobrindo autores desconhecidos. Agora, tenho de me fazer à vida. A realidade espera-me e eu não gosto de me atrasar. Setembro começou.

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