Hoje coube-me assistir a umas conferências sobre Inteligência Artificial. Um dos oradores questionou o uso do qualificativo artificial, preferia Inteligência Sintética. Um equívoco. Artificial é uma escolha adequada, pois contém na sua raiz a ideia de arte, feito pela arte e o engenho dos homens. Pela indústria. Arte remete para a ars latina, a qual traduz a techne dos gregos, a raiz da portuguesa técnica. A Inteligência Artificial, nem sei por que razão estou a grafar em maiúsculas, é um artefacto técnico, resultado da indústria, no sentido de engenho para fazer algo e, mas só depois, como actividade económica mecânica, que também é. O uso de artificial coloca a Inteligência Artificial numa tradição arcaica da humanidade e é lá que ela deve ficar. Essa ideia de artefacto é mais importante do que a de síntese, que remete para composição. Há composições produzidas pelo homem, pela sua ars, pela sua techne, mas haverá outras espontâneas, geradas pela natureza, o que introduz uma ambiguidade ausente do vocábulo artificial. Não perdi o tempo, embora tivesse ainda direito a uma palestra sobre a felicidade, que de algum modo usava um artefacto da Inteligência Artificial para medir os estados de felicidade e infelicidade, mas aí a coisa tinha entrado no domínio da pura ociosidade, a que não faltou o mindfulness e outras ideias aberrantes para uma mente envelhecida, incapaz de sentir qualquer empatia – acho que também esta palavra terá sido usada – pelo assunto. Valeu a prova dos vinhos, onde descobri um tinto bastante interessante e também um rosé suficientemente seco para me chamar a atenção. Comprei umas garrafas de ambos, o que teria salvado a manhã, caso as conferências sobre Inteligência Artificial tivessem sido todo cheias de empatia e mindfulness, o que não foi, Deo Gratias, o caso.
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