Os termómetros, por aqui, chegaram aos 32 graus e Maio anuncia-se com temperaturas na ordem dos 35. A rua estava insuportável, e tudo indica que este estado de coisas é irremissível. Agora, o Verão começa em Abril e prolonga-se por dentro de Outubro, até quase Novembro. A sensação que paira nos ares é de que ninguém quer saber, como se as pessoas se entregassem a uma lógica evolucionista, em que os mais aptos se adaptarão às novas circunstâncias, e não há ninguém que se sinta excluído do grupo dos mais aptos. Ou talvez se espere um milagre que resolva aquilo que parece não ter solução. Um milagre sobrenatural ou criado pela ciência. Ouvi esta conversa a alguém que se interessa pelo clima, mas não soube o que lhe dizer. Enquanto escutava, pensava em lugares frescos, paisagens de névoa e na água fresca que me apetecia beber. Coisas simples de um exilado climático. O dia prolongou-se e eu perdi-me na azáfama, sem dar conta de algum acontecimento merecedor de narração. A entrada para a auto-estrada estava cortada, o aparato policial indicava haver problema e o trânsito acumulava-se perdido na lentidão. Foi um acidente, disseram-me pouco depois. Mais tarde, encontrei outro, mas já às portas da cidade, embora esta não tenha portas. As que havia na muralha fernandina, que circundava a antiga vila, o terramoto de 1755 levou-as com a muralha. Agora, vivo numa terra desmuralhada, incapaz de opor resistência a mouros ou castelhanos. O Word não gostou de desmuralhada, sublinhou-a a vermelho e propôs emuralhada ou mesmo desmortalhada. Pensei que o processador de texto estava numa fase tétrica. Vou fechá-lo.
Uma Cidade sem Mulheres seria um verdadeiro Fellini Word trouble. Imagine-se o que faria Snàporaz numa cidade desmulherada.
ResponderEliminarTalvez adormecesse e sonhasse. Com mulheres, claro.
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