Hoje fui a uma agência bancária, sítio onde não ia há muito. Fiquei espantado. Quase não havia funcionários, também eram poucas as pessoas que solicitavam os serviços desses funcionários. O lugar para o público combinava o aspecto de uma sala de espera de um consultório médico com o de um café. Tudo se resolveu com rapidez, no meio de um silêncio reverente, o que me fez suspeitar que aquilo seria também uma espécie de igreja, com bar e lugar para os crentes prepararem as suas confissões. Um exemplo de metamorfose moderna, que ainda não descobriu o seu Ovídio para a cantar. Ao sair, encontrei o mundo profano que deixara ao entrar. Respirei fundo e caminhei descansado para o carro. Chegado a casa, depois desta vibrante aventura, dei uma vista de olhos pela imprensa online. Parece que as máscaras estão a começar a voltar aos hospitais, ainda por causa da COVID-19. Temo que esse retorno se propague. O que me chocou, porém, foi saber que a nossa espécie esteve quase para não chegar à existência. Um tenebroso colapso populacional, ocorrido há 900 mil anos, reduziu os nossos antepassados, em idade reprodutiva, para cerca de 1280. Note-se a precisão do número aproximado, passe a incongruência. Não foram cerca de 1300 ou de 1200, mas cerca de 1280. Foi uma sorte esses 1280 não terem entrado todos num convento e feito votos de castidade ou terem trocado os encontros presenciais por contactos virtuais, ou mesmo terem achado o sexo uma prática repugnante e desistido dela. Não, fiéis ao compromisso que tinham para assegurar que nós haveríamos de existir, decidiram nada de entradas em conventos, nada de uso de telemóveis, nada de repugnâncias com a troca de fluidos. Sacrificaram-se, usando os sexos, para que nós tivéssemos a possibilidade de vir à existência. Devemos admirar e honrar o seu altruísmo.
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