Em 2020 foi roubado do museu de Groninger um quadro de Van Gogh. Foi agora recuperado. O título da obra é O Jardim do Presbitério Neunen na Primavera. Tudo no quadro, porém, é outonal, as corres sombrias, a natureza representada, mesmo a figura humana com o seu vestido negro. Imagino que uma pintura destas não fosse possível num país do Sul da Europa. Também não consigo imaginar uma indiferenciação entre o crepúsculo que antecede a noite e aquele que anuncia a manhã. É possível que aquilo que cada um é e o modo como vê e representa o mundo dependa tanto da geografia como dos genes. Imagino que sejamos filhos das paisagens, pois são elas o pano de fundo onde se desenrola o drama de cada um. Quanto mais poder essas paisagens têm sobre nós, menos damos por elas. Tornaram-se carne da nossa carne. Aquelas que se impõem à atenção são as que são estranhas. Podem ser belas, mais belas que as nossas, mas nelas somos sempre estrangeiros. Talvez o jardim do presbitério de Neunen nunca tenha sido abençoado com uma Primavera.
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