A minha vontade, alimentada por uma inclinação natural, era de falar sobre o tempo, não a duração, mas o clima. Contenho-me, pois não tenho habilitação meteorológica, e o que é demais, é demais. Já para falar da duração, teria habilitação, desde que não falasse mais de três minutos, o que é obviamente pouco. Talvez pudesse discorrer acerca do conflito entre guelfos e gibelinos, mas isso foi há tantos séculos que, apesar de ter participado nessas lutas, já não me recordo do resultado, nem do lado a que ofereci os meus primeiros serviços, embora, como se sabe, tenha combatido ora de um lado, ora de outro. Se foi essa a verdade, pois tudo em mim está difuso, não se pense que eu chefiava uma comandita que usava mercenários para combater pelo lado que melhor pagasse. Nesse tempo, o meu espírito ainda não se tinha rendido à economia de mercado. O que me movia nesses séculos finais do medievo, se bem me recordo, era um espírito de equanimidade, no sentido de advogar a igualdade e a imparcialidade, oferecendo os meus serviços a quem estivesse em pior posição, de modo a repor a igualdade entre os contendores. A minha alma não se movia nem pelo papado nem pelo império, mas pela ideia de equilíbrio. Consta que esta posição foi, desde muito cedo, atacada, pois ela significava um prolongar infinito da guerra. Para que haja paz, é necessário que uma das partes fique mais fragilizada e se submeta, o que acabaria por promover a felicidade do maior número de intervenientes no conflito, argumentou-se. Ora, posso jurá-lo, nunca o utilitarismo me moveu, o que me terá levado a rejeitar com acinte as críticas, continuando apostado na promoção de equilíbrios, sempre que um desequilíbrio surgia. Tudo isso se passou há muito, bem antes de ter partido nas naus portuguesas e, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, ter aportado a terras de Vera Cruz, e ter acompanhado a redacção da carta de Pêro Vaz de Caminha ao Rei D. Manuel, o primeiro dessa denominação no rol dos reis pátrios. Cansado de tantas peripécias, sento-me agora à janela e vejo a chuva cair, para adormecer de seguida, acordando se algum trovão ribomba, sentindo um leve ânimo se o horizonte se abre num clarão ou um raio fende a atmosfera cinzenta e entra pela terra.
Sabendo-o impedido de falar sobre política só posso pensar que compara a curva de Gauss com o monte Fuji. E com o que lhes sai anormalmente do percentil.
ResponderEliminarO monte Fuji é um excelente ilustração. Na altura não me ocorreu, talvez focado noutro assunto. Um narrador tem um número limitado de ocorrências possíveis. Infelizmente.
Eliminarありがとう
EliminarNão tem de quê, caso o Deep L tenha traduzido correctamente.
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