Chove e troveja, venta, parece um pequeno temporal, com um céu de cinza e chumbo. Lamento os meus planos, pobres enganos. A caminhada da tarde, com os respectivos pontos cardio, está comprometida. Resta-me esperar que S. Pedro, o meteorologista-mor em exercício, se apiede de mim e mande suspender o temporal. Os santos, todavia, regem-se por uma lógica que os pobres pecadores não compreendem. Não sei se isso será da santidade ou da falta cultura filosófica. Talvez São Tomás de Aquino seja mais lógico, mas não lhe foi dada a incumbência de reger o clima. Pior do que isso acontecia, segundo o poeta Rilke, ao Rei de Münster: Já não se sentia legitimado: / o senhor nele era moderado / e o coito era falhado. Talvez a pobre majestade tivesse medo da trovoada, o desejo sucumbisse ao ruído dos trovões e o sentimento real se apagasse à luz dos relâmpagos. É possível que impérios tenham caído por coisas de menos importância. Portanto, podemos pensar que o brevíssimo reino de Münster tenha sucumbido por motivos tão triviais como esse. Convém, no entanto, não confundir os reinos de Munster e de Münster, o primeiro, na ilha da Irlanda, foi duradouro, o segundo, na Vestefália, resistiu um ano. Foi governado por Jan Leiden, um alfaiate holandês, de orientação religiosa anabaptista, e proporcionou não pouca diversão. Para além de tornar obrigatório o rebaptismo, pôs em comum os bens e decretou a poligamia. Imagino que as competências do alfaiate não estivessem ao nível do que era proposto, o que permitiu que os inimigos da experiência sitiassem a cidade, se apoderassem da corte tresloucada e executassem os seus membros. Se me perguntarem qual a opinião de S. Pedro e de S. Tomás, confessarei que não faço a mínima ideia. Talvez, no momento da conquista da cidade, S. Pedro tenha mandado uma tempestade, e S. Tomás, escrito, no paraíso celeste, mais umas páginas da Summa Theologica. Isto, porém, são especulações intempestivas de alguém que é, por natureza, anacrónico. Os trovões calaram-se, mas continua a chover. Münster será reconquistada.
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